STF: Vai-se a vaidade, ficam os pecados...

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Aos poucos, o Supremo Tribunal Federal vai se despindo das máscaras que outrora o faziam parecer templo da Justiça. A recente aposentadoria precoce de um de seus ministros mais midiáticos simboliza não apenas o fim de um ciclo, mas o esgotamento de uma era marcada por um pecado em especial, a vaidade.

Com ela, retira-se dos holofotes aquele que amava o aplauso, o discurso performático e a sensação de ser mais iluminado que a própria lei. A vaidade, ensinava São Tomás de Aquino, é o amor desordenado pela própria excelência, e talvez, não haja pecado mais sedutor para quem habita as cúpulas do poder.

Mas se a vaidade sai de cena, os demais pecados permanecem sentados nas poltronas de veludo do plenário.

Fica a soberba, travestida de autoridade moral, convencida de que a toga concede o direito de tutelar consciências e corrigir o voto popular. Fica a ira, manifesta em decisões intempestivas, em ofícios expedidos como dardos contra adversários de ocasião. Fica a inveja, que se oculta sob o verniz da colegialidade, mas que alimenta rivalidades e ciúmes por manchetes, citações e prestígio internacional.

A preguiça também resiste, não a do corpo, mas a da alma. A preguiça de ouvir, de dialogar, de reconhecer que o poder, sem humildade, degenera em tirania. E, como não poderia faltar, a avareza, não de ouro, mas de poder. A avareza que transforma cada voto em moeda e cada liminar em instrumento de barganha política.

Por fim, sobrevivem a gula e a luxúria, simbolicamente expressas no apetite insaciável por influência, por domínio, por controle sobre todos os poderes e sobre todas as vozes.

Com a saída do vaidoso, o tribunal perde seu ator principal, mas o espetáculo continua. O palco ainda é o mesmo, os cenários não mudaram, e o roteiro, escrito pela tentação humana, segue sendo interpretado com zelo quase religioso.

Vai-se a vaidade. Ficam os pecados.

Foto de Henrique Alves da Rocha

Henrique Alves da Rocha

Coronel da Polícia Militar do Estado de Sergipe.