Como uma viagem ao planeta do câncer me fez entender o mundo
17/10/2025 às 06:13 Ler na área do assinantePor que sentimos essa atração misteriosa pelo horizonte, mesmo sabendo que é a linha mais distante de onde estamos?
Quando perguntaram a George Mallory porque ele queria subir o Everest, a simplicidade da resposta surpreendeu: “Porque ele está lá”. Mallory sumiu no Everest em 1924. Seu corpo só foi achado em 1999.
A primeira vez que vimos o lado oculto da Lua foi em 7 de outubro de 1959, quando a sonda Luna 3, da União Soviética, transmitiu as primeiras imagens do hemisfério oculto da Lua. Essas fotografias granuladas mostraram um lado da Lua diferente daquele que vemos da Terra.
Lugares distantes e ocultos sempre nos fascinam. É isso que nos faz viajar, por exemplo. Em 2024, a indústria global do turismo gerou aproximadamente US$ 11 trilhões para o PIB mundial, representando cerca de 10% da economia global, gerando 357 milhões de empregos em todo o mundo.
Sentimos curiosidade em explorar novos ângulos, novos horizontes, lugares desconhecidos, perspectivas diferentes. É um desejo humano inato de buscar desafios e entender o desconhecido, um impulso para conhecer um obstáculo natural que existe além das necessidades humanas. Afinal, ninguém precisa viajar, da mesma forma que ninguém precisa subir o Everest ou ir à Lua.
À medida que nosso horizonte foi se expandindo, conhecemos fábulas e narrativas sobre terras distantes, países distantes e, mais recentemente, planetas e galáxias cada vez mais distantes.
Recentemente, estando em tratamento de um câncer de pâncreas nos EUA, redescobri a fascinante viagem ao universo do próximo. O vizinho, esse que está ao nosso lado, tantas vezes distante como o horizonte ou a face oculta da Lua.
A ideia de que cada pessoa é um universo foi já expressa por vários sábios. Na tradição judaica, a ideia de que "quem salva uma única vida, salva todo um universo" vem do Talmud, o texto central do judaísmo rabínico refletindo 1700 anos de debates construtivos. Este princípio tem sido referenciado por inúmeros autores e educadores para transmitir o valor imenso e único de cada vida humana.
No Cristianismo, os versículos em Mateus 16:25 e Lucas 9:24 sugerem que aqueles que se apegam firmemente à sua vida atual acabarão por "perdê-la", enquanto aqueles que a "perdem" por Cristo a "salvarão", encontrando a vida verdadeira e eterna. A mensagem ressalta a priorização de valores espirituais sobre necessidades materiais.
Buda ensinou a importância de salvar vidas: seus ensinamentos enfatizam uma compreensão ampla e holística da não-agressão e da compaixão por todos os seres vivos. O princípio budista fundamental de ahimsa (não-agressão) é a base dessa crença.
Os ensinamentos islâmicos, que derivam do Alcorão e dos ditos e ações do Profeta Muhammad (Sunnah e Hadith), enfatizam que salvar uma vida é um dos atos mais virtuosos e significativos. Mas...e esses muçulmanos do Hamas que mantiveram israelenses presos em condições desumanas por dois anos e o grupo Boko Haram que continua decapitando cristãos a até muçulmanos moderados na Nigéria? Grupos radicais muçulmanos assassinam oponentes como tática para chamar a atenção, intimidar inimigos e punir supostos transgressores, com base em suas interpretações radicais e controversas dos textos islâmicos. Em uma palavra: poder. Resultado: barbárie. Essa luta não reflete valores espirituais, mas sórdida ambição e conveniência política. Pelas mesmas razões, vários governos, incluindo África do Sul, Brasil, China, Irã, Rússia, Turquia e outros não consideram o Hamas um grupo terrorista - apesar destes usarem o terror como arma política. Não podemos ser ingênuos com relação a isso.
Meus avós chegaram pobres ao Brasil e tiveram como maior prioridade trabalhar duro e educar seus filhos. Escolheram o Brasil por ser uma terra de paz, calorosa, onde sempre houve uma convivência harmônica entre árabes, judeus e todos os imigrantes que fizeram nosso país. Hoje a situação está mudando por razões político-partidárias, uma vergonha. Há até um partido político plenamente constituído no Brasil que glorifica o Hamas. Outra vergonha.
Mas a sabedoria dos séculos permanece na obra do sobrevivente do Holocausto Elie Wiesel: "Devemos ver em cada pessoa um universo com seus próprios segredos, com seus próprios tesouros, com suas próprias fontes de angústia e com alguma medida de triunfo". Bob Marley disse algo parecido: "O homem é um universo dentro de si mesmo".
É claro que essas frases não são literais, mas uma metáfora que enfatiza a complexidade, a singularidade e a profundidade do mundo interior de cada pessoa. Assim, ao valorizar cada indivíduo, a base da nossa civilização foi construída. A História segue mostrando que, ao cuidarmos de cada um, o mundo fica melhor para todos, como demonstrado por Rousseau em seu “Contrato Social”.
Em toda a minha vida, nada me mostrou melhor a riqueza do universo contido no vizinho do que minha permanência involuntária em um hospital de câncer. Por que isso? Não há vaidade, não há interesse, não há competição. As histórias fluem. A verdade sobre nossa essência se mostra da forma mais nua possível. Um senhor praticamente chorou no meu ombro: “Minha filha tem 44 anos e seis filhos. Ela já retirou os dois seios, mas o câncer se expandiu para o fígado”.
Há verdades que ninguém quer ouvir. E há mentiras que muitos querem impor.
Em um debate “político” cada lado tenta derrotar o outro, principalmente quando milhões estão em jogo, no sentido mais material possível. Por isso, já desisti de perder tempo debatendo com um comunista, socialista, marxista, etc. que a esquerda como está sendo imposta por ditaduras não funciona. É só mais um pretexto para se chegar ao poder. A História prova isso.
Duas imagens se contrastam na minha mente: de um lado, um jovem pró-Hamas em Nova York, muito triste com a paz conseguida pelo Presidente Trump, choramingando a perda do dinheirinho fácil que ele recebia todo como mês como “pagamento pelo protesto”. “E agora? Como vou pagar meu aluguel? Será que vou ter que trabalhar?” Do outro lado, vejo Israel trocando quase dois mil prisioneiros palestinos condenados por assassinatos e outros crimes sérios por vinte jovens inocentes raptados durante um festival de música há dois anos atrás. Esses vinte passaram pelo inferno e conseguiram sobreviver, com possíveis sequelas para o resto da vida.
Por que Israel trocou 2000 por 20? Por valorizar a vida.
Portanto, em minha viagem ao país do câncer, aprendi isso: se há uma maneira digna e nobre de valorizar a vida, faça de cada dia uma oportunidade para viajar até o horizonte do mais próximo. Talvez seja essa a forma mais nobre de orar e agradecer a Deus, porque ouvir também é amar.
Aquele senhor triste sentado ao seu lado no ônibus pode representar todo um universo querendo se abrir para você.
Fazer a jornada ao universo do próximo ou fechar-se ao universo do próximo? Essa pode representar a escolha mais simples e fundamental que cada um faz entre a civilidade ou a barbárie.
Jonas Rabinovitch. Arquiteto urbanista com 30 anos de experiência como Conselheiro Sênior para Inovação e Gestão Pública da ONU em Nova York.
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