A Justiça francesa concedeu liberdade provisória ao ex-presidente Nicolas Sarkozy, detido no fim de outubro após sua condenação em um processo de financiamento ilegal de campanha com recursos ligados ao governo da Líbia. A decisão permitiu que o político, de 70 anos, deixasse o presídio de La Santé, em Paris, menos de três semanas depois de ter sido encarcerado.
O Tribunal de Apelações da França aceitou o pedido da defesa, que argumentou que Sarkozy não representa risco de fuga e deve aguardar em liberdade o julgamento do recurso contra sua condenação de cinco anos em regime fechado. Embora libertado, o ex-presidente deverá cumprir medidas de controle rigorosas, incluindo supervisão judicial constante, inspeções periódicas e a proibição de sair do território francês. Ele também está impedido de se comunicar com pessoas envolvidas no processo, já que foi acusado de tentar influenciar testemunhas durante o julgamento.
Durante uma videoconferência realizada antes da decisão judicial, Sarkozy descreveu sua experiência na prisão como “muito dura”.
“É difícil, muito difícil — certamente para qualquer prisioneiro. Eu diria até que é implacável”, afirmou.
Ele ainda agradeceu aos funcionários do presídio que, segundo suas palavras, “tornaram este pesadelo suportável”.
O ex-presidente, que governou a França entre 2007 e 2012, é o primeiro chefe de Estado francês da era contemporânea a ser preso após uma condenação criminal. Ele foi detido em 21 de outubro, logo após a sentença, e imediatamente recorreu pedindo sua libertação antecipada.
A condenação de Sarkozy decorre de uma investigação de longo prazo sobre o suposto financiamento ilegal de sua campanha de 2007 com dinheiro proveniente do regime líbio de Muammar Kadhafi. O Tribunal Criminal de Paris o considerou culpado por associação criminosa, mas o absolveu de outras acusações, como corrupção e recebimento direto de doações ilegais. O ex-presidente nega qualquer envolvimento e alega ser alvo de perseguição política. Ao ingressar na prisão, afirmou que dormiria em sua cela “de cabeça erguida”.
Durante o julgamento, a Promotoria sustentou que, em troca do apoio financeiro, Kadhafi esperava obter ajuda para melhorar sua imagem internacional.
À época, o regime líbio era acusado de envolvimento em atentados aéreos na Escócia e no Níger.
Kadhafi foi deposto e morto em outubro de 2011, no auge da Primavera Árabe, após uma intervenção militar da Otan — apoiada pela França — que impôs uma zona de exclusão aérea sobre o país e deu suporte decisivo aos rebeldes.
Além de Sarkozy, outras 11 pessoas foram julgadas. O ex-ministro Claude Guéant foi condenado por corrupção, enquanto Brice Hortefeux foi considerado culpado por associação ilícita. O tesoureiro da campanha de 2007, Éric Woerth, acabou absolvido. O processo reuniu provas como registros de viagens à Líbia, movimentações financeiras e os cadernos do ex-ministro do Petróleo líbio Shukri Ghanem, encontrado morto no rio Danúbio em Viena, em 2012.
Essa não é a primeira vez que Sarkozy enfrenta a Justiça. Ele já havia sido condenado anteriormente por corrupção e tráfico de influência no caso das “escutas”, mas conseguiu converter a pena em regime aberto e usou tornozeleira eletrônica.
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da Redação