Tilápia do Vietnã, silêncio no Brasil: O desmonte da piscicultura nacional

12/11/2025 às 18:00 Ler na área do assinante

Em um país onde a produção de tilápia é uma das joias da aquicultura, o governo brasileiro decidiu abrir as portas para a importação em massa de peixe vietnamita.

O primeiro contêiner, com 24 toneladas, já está a caminho do porto de Santos. Ao todo, serão 32 contêineres com cerca de 700 toneladas — um volume que não apenas ameaça o mercado interno, mas escancara a inversão de prioridades de um governo que deveria proteger seus produtores.

A justificativa oficial é a cooperação bilateral entre Brasil e Vietnã, firmada durante a Cúpula Ampliada do BRICS. Em troca da abertura para tilápia, peixe-galo e peixe-basa, o Brasil exportará carne bovina.

Um acordo comercial legítimo protegendo a JBS, mas que ignora o impacto direto sobre milhares de piscicultores brasileiros que enfrentam, neste exato momento, restrições ambientais, burocracia sanitária e falta de incentivo fiscal para manter suas criações.

Enquanto o peixe vietnamita navega livremente rumo aos supermercados brasileiros, os produtores nacionais enfrentam licenciamentos travados, fiscalizações excessivas e linhas de crédito cada vez mais escassas.

O paradoxo é evidente: o governo facilita a entrada de proteína estrangeira enquanto cria obstáculos para quem produz aqui.

É como se o Brasil estivesse terceirizando sua soberania alimentar.

O Ministério da Agricultura afirma que o risco sanitário da tilápia vietnamita é “negligenciável”.

Mas negligente mesmo é o tratamento dado à cadeia produtiva nacional.

A tilápia brasileira é reconhecida mundialmente pela qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade. Ainda assim, o governo prefere importar peixe congelado de milhares de quilômetros de distância, em vez de fortalecer a produção local, gerar empregos e dinamizar a economia regional.

A entrada da JBS como importadora oficial reforça o caráter concentrador e duvidoso da operação.

Pequenos e médios produtores, que sustentam a piscicultura em estados como Minas Gerais, Paraná e São Paulo, não têm como competir com o poder logístico e comercial de uma gigante global.

O resultado é previsível: desestímulo à produção nacional, queda de preços internos e possível abandono da atividade por milhares de famílias.

Em tempos de crise climática, insegurança alimentar e desemprego, a decisão do governo é mais do que um erro estratégico — é um desprezo institucional pela produção nacional.

A tilápia do Vietnã pode chegar com selo de qualidade, mas carrega consigo o sinal de alerta do Brasil,  um país que está deixando de investir em si mesmo.

A piscicultura brasileira não precisa de proteção artificial.

Precisa de condições justas, de incentivo, de respeito. E, acima de tudo, de um governo que enxergue no produtor nacional não um entrave, mas um parceiro estratégico.

Como está fazendo de novo envolvendo a JBS.... sempre há algum interesse maior.

Porque soberania alimentar não se importa — se constrói.

Jayme Rizolli

Jornalista.

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