Um editorial do Estadão sacode a poeira do jornalismo. Pena que desvia o foco para o jornalismo internacional

Ler na área do assinante

Publicado no último dia 12, na seção de Notas e Informações - leia-se opinião do jornal Estadão, portanto, um editorial, sob o título - O PERIGO DO JORNALISMO MILITANTE, o jornalismo da casa vai fundo na questão.

Mas…

Primeiro ponto: esse editorial só foi possível porque não havia como camuflar o que aconteceu, A BBC Television de Londres, um dos mais importantes do mundo com 103 anos de história, em seu principal programa documentário, o Panorama, cometeu um erro gravíssimo. O programa foi exibido uma semana antes das eleições presidenciais americanas, e manipularam o discurso do então candidato Donald Trump.  

Entre outras demissões, o diretor-geral Tim Davie e a chefe do jornalismo Deborah Turness renunciaram aos seus cargos.

Tim Davie e Deborah Turness

O programa da BBC, sob relatório de um analista contratado pelo jornal Daily Telegraph, também se avizinhou a problemas conceituais e morais do jornalismo nas coberturas que tratavam da guerra em Gaza, e temas ligados a pessoas transgênero, à imigração e racismo.

Em sua publicação no perfil do Instagram, o Estadão cita vários pontos que recriminam o modelo do jornalismo atual, podemos destacar a atualidade do jornalismo como a Manipulação, o tumor, a traição ao público, a degradação da democracia, tendo-as como a Degeneração do jornalismo. Os seus efeitos também são citados como doutrinação e a desconfiança na imprensa afetando a democracia. 

No perfil, há um preâmbulo sobre o editorial, como transcrevo abaixo:

EDITORIAL | O perigo do jornalismo militante – “O escândalo que derrubou o diretor-geral da BBC, Tim Davie, foi mais que um tropeço editorial. A emissora manipulou falas do presidente Donald Trump num documentário para fazê-las parecer um apelo direto à violência. O episódio somou-se à revelação de que um programa sobre a guerra em Gaza fora narrado, sem aviso ao público, pelo filho de um ministro do Hamas. A BBC, criada há mais de um século para ser sinônimo de imparcialidade, violou a sua razão de ser: a credibilidade”.

Na íntegra do editorial, outras percepções e críticas são notadas relacionadas ao mau jornalismo.

Com uma leitura mais apurada, dois fatores chamam nossa atenção: a desconfiança do público, inclusive, de jornalistas profissionais e experientes, ao ver manifestações desta natureza, ou seja, a favor da moralidade e profissionalismo, num jornal como o Estadão, que faz parte do entendimento dos leitores como militante, concluímos que a autocrítica passou longe do editorial.

Usando a pandemia como justificativa, criaram em meados de 2020 o famigerado Consórcio de Imprensa, e lá estava o Estadão, unido ao g1, O Globo, Extra, Estadão, Folha e UOL, e seus diversos puxadinhos como o jornal Estado de Minas, Correio Braziliense, o portal UAI, Brasil 247, entre tantos outros. Anunciaram o fim deste consórcio em janeiro de 2023, mas na prática não é isso que se vê. Todos os jornais que trazem consigo tendências ideológicas da esquerda brasileira, apoio incondicional ao sistema dominante no país, e claro, de olho no patrocínio com dinheiro público, não se cansam de propagar e defender pautas que seus patronos se interessam. Se preciso for, mentem, sem problema algum. Criar factoides, omissões e assassinatos de reputação, são atos corriqueiros nas redações.

O segundo fator a se observar a partir do editorial, e que esbarra no primeiro fator dimensionado acima, é que o foco da opinião está diretamente relacionado com a imprensa estrangeira como se aqui no Brasil fosse um mar profissional jornalístico. Se escondem atrás de uma verdade, mas não a aplicam de forma honesta.

Numa única linha, há uma citação, após associar os números da pesquisa da Reuters que apontam que 77% dos jornalistas no Reino Unido se identificam com a esquerda e 11% com a direita - No Brasil, segundo pesquisas da Universidade Federal de Santa Catarina, a desproporção é ainda maior: 80,7% à esquerda e 4% à direita. E só!  

Que os colegas jornalistas, especialmente os que valorizam a arte de informar e transmitir os fatos como eles são, que honram com o seu compromisso com a verdade, observem a estratégia do Estadão, que vive num morde e assopra há muito tempo.

Amanhã, e nos outros dias que virão, vamos ler editoriais que usam e abusam das expressões - Golpistas, Terroristas do 8 de janeiro, Abolição do Estado Democrático de Direito, Fake News, Blogueiros, Antidemocráticos, Entreguistas, Ataques à Soberania e a Instituições, Negacionistas, Racistas, Preconceituosos, enfim…

Às vezes fico pensando, usando da minha prerrogativa de análise, sobre editoriais do jornal O Globo, e que ilustram bem este artigo. Dois editoriais do O GLOBO, um de 1964 e outro de 1984, portanto vinte anos os separam, sem uma única vírgula sequer de mudança de opinião entre eles.

Sob a tutela do patriarca Roberto Marinho, ambos os editoriais versavam sobre o período militar, compreendendo que o jornal defendia o regime militar daquele período. Dez anos após a morte do Roberto Marinho, um outro editorial do mesmo O Globo, reduzia a pó os editoriais anteriores, e mais que isso, desmentindo-os categoricamente. Esses mesmos que tutelaram o editorial; Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, filho do Roberto Marinho, devem ter provocado a fúria e feito o Marinho pai se revirar no túmulo.

Tudo isso está descrito em meu livro - Jornalismo: a um passo do abismo…

Se considerarmos que os editoriais refletem o momento do pensamento de um veículo de comunicação, vamos concluir que o escárnio militante e oportunista da imprensa de hoje, ainda vai levar tempo para voltar aos trilhos da credibilidade.

Leia o editorial:

Foto de Alexandre Siqueira

Alexandre Siqueira

Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
  http://livrariafactus.com.br