A Operação Coffee Break, o novo retrato da velha corrupção no Brasil e o filho de Lula presente

13/11/2025 às 20:32 Ler na área do assinante

O Brasil amanheceu mais uma vez com o amargo gosto do café frio da corrupção. A Polícia Federal deflagrou, nesta terça-feira (12), a Operação Coffee Break, uma nova ofensiva contra fraudes em licitações públicas que escancara o que o país já sabe há décadas, mas insiste em negar: a corrupção não tem partido, tem sistema.

A investigação revelou um esquema milionário de desvios de recursos da educação, com contratos superfaturados para o fornecimento de kits de robótica e materiais escolares em prefeituras paulistas. As apurações, conduzidas pela PF em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), atingiram empresários, políticos e lobistas com ligações diretas com o poder federal. O nome da operação faz referência às reuniões informais: os “coffee breaks”, onde os supostos crimes eram combinados longe dos olhos públicos.

Segundo a PF, os contratos sob suspeita foram firmados com prefeituras como Sumaré, Hortolândia e Limeira, todas no interior de São Paulo, além de ramificações no Distrito Federal e Paraná. O epicentro do esquema seria a empresa Life Tecnologia Educacional Ltda., responsável por intermediar contratos superfaturados com dinheiro público proveniente do Ministério da Educação (MEC). As investigações apontam para fraude em licitação, corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Entre os presos, está Cafu César (PSB), vice-prefeito de Hortolândia, acusado de envolvimento direto nas fraudes. O empresário André Mariano, sócio da Life Tecnologia, também foi detido. Foram cumpridos 50 mandados de busca e apreensão e 6 de prisão preventiva, todos expedidos pela 1ª Vara Federal de Campinas (SP). Dinheiro em espécie, documentos e dispositivos eletrônicos foram apreendidos em várias localidades.

O que mais choca, porém, é o vínculo direto do esquema com familiares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o mesmo líder que prometeu “reconstruir o Brasil” após os escândalos da Lava Jato.

Uma das pessoas investigadas é Carla Ariane Trindade, ex-nora de Lula e ex-esposa de Marcos Cláudio Lula da Silva. Segundo a Polícia Federal, ela teria atuado como lobista da Life Tecnologia Educacional, empresa central no esquema de fraudes, usando sua rede de contatos políticos para intermediar contratos milionários com prefeituras e órgãos federais.

Durante as buscas realizadas pela PF, um detalhe chamou a atenção dos investigadores: o filho de Lula estava presente na casa da ex-esposa no momento em que os agentes federais chegaram para cumprir o mandado de busca e apreensão.

Embora não houvesse mandado específico contra ele, a presença do rapaz levantou questionamentos inevitáveis sobre o grau de proximidade entre os negócios da ex-nora e o círculo familiar do presidente.

A pergunta que ecoa desde então é simples, mas devastadora: O que fazia o filho do presidente na casa da ex-nora investigada por corrupção, no exato momento em que a Polícia Federal bateu à porta?

Nem o Palácio do Planalto nem a defesa do filho de Lula se pronunciaram oficialmente sobre o episódio. Mas a cena com um agente federal na porta, uma ex-nora sob investigação e o filho do presidente presente diz muito sobre o estado da República e o quanto a fronteira entre o poder político e o interesse privado continua borrada no Brasil.

Outro nome que aparece é Kalil Bittar, ex-sócio de outro filho de Lula, Fabio Luís, o Lulinha, em outros empreendimentos que já haviam sido investigados em operações anteriores. Buscas também ocorreram na casa do ex-prefeito de Limeira (SP), Mário Botion, e em construtoras ligadas a licitações suspeitas.

Enquanto as assessorias correm para negar envolvimentos, alegando que os contratos são “de gestões anteriores”, a realidade é que o sistema continua o mesmo. De Brasília a Campinas, a corrupção se adapta, se renova e se perpetua.

As prefeituras de Sumaré e Hortolândia anunciaram sindicâncias internas e afirmaram colaborar com as investigações. O ex-prefeito de Limeira negou irregularidades. Mas os fatos mostram que o dinheiro desviado do MEC como recurso destinado à educação de crianças pobres, acabou irrigando campanhas políticas, consultorias fantasmas e contas de laranjas.

O prejuízo social é incalculável: menos educação, mais desigualdade, mais descrédito institucional. O Estado que deveria proteger, educar e promover justiça social, continua sendo saqueado de dentro.

A Operação Coffee Break confirma o que o Brasil aprendeu a duras penas: a corrupção persiste, do mensalão ao petrolão, do orçamento secreto à “rachadinha”, e agora ao “café” da vez,  o enredo é o mesmo, apenas os protagonistas mudam.

O discurso anticorrupção virou marketing eleitoral. Os escândalos vêm e vão, os processos se arrastam e o sistema político sobrevive intacto, alimentado pela impunidade. Cada operação gera manchetes, indignação nas redes e promessas de mudança até o próximo escândalo, até o próximo “coffee break”.

O povo brasileiro está exausto. A descrença se tornou rotina. A cada nova operação, surge a esperança de que, talvez desta vez, o ciclo seja rompido, mas logo depois, a constatação amarga de que tudo continua igual. A Operação Coffee Break é mais do que uma ação policial. É o reflexo de um país onde a corrupção virou cultura, o poder virou negócio e a ética virou exceção.

Enquanto as escolas seguem sem estrutura, os professores sem salário digno e os alunos sem livros, os “coffee breaks” continuam servindo cafés caros e contratos milionários, pagos com o dinheiro de quem mais precisa.

Carlos Arouck

Policial federal. É formado em Direito e Administração de Empresas.

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