Academia Brasileira de Letras, cuide-se em nome de seus fundadores!
14/11/2025 às 21:39 Ler na área do assinanteNão conhecia Ana Maria Gonçalves, e acredito que muitos ainda não a conhecem. A partir da verborragia midiática que tomou conta dos noticiários, muitos ouviram o nome dela, mas, no entanto, continuaram sem saber quem é, me incluindo também. Até aqui!
A partir da eleição da escritora Ana Maria Gonçalves para ocupar uma cadeira na prestigiosa, pelo menos outrora era, meus olhos se voltaram não para dentro da academia, mas para fora dela.
As ações midiáticas com a famigerada “inclusão social” impetrada por lacradores de toda ordem, defensores das chamadas minorias, entrou em cena. A eleição da Ana Maria não carregava consigo a meritocracia, mas sim o fato de ela ser mulher e negra.
Postei no meu X - @ssicca1, uma pequena introdução a respeito das mazelas que a ABL vem sofrendo há algum tempo. Leia:
Não havia me dado conta sobre quem era a protagonista. A dita cuja é a própria encarnação da lacração e narradora de uma vitimização escalafobética e imaginária.
Foi então que ouvi três expressões dela num trecho do seu discurso de posse - “Pretuguês”, “Oralitura” e “Escrevivência”:
Ouça:
PRETUGUÊS é uma expressão criativa da própria autora que poderia caber em qualquer mesa de botequim, numa conversa lúdica e descontraída. Teria mais, digamos assim, identidade, e maior eficácia para alguma conscientização popular. Mas, agora, dizer isso dentro do recinto da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS? Pelo amor de Deus! Lá é apenas um erro de PORTUGUÊS e pronto! Praticamente, uma agressão à língua pátria.
Já a expressão ORALITURA é um pretenso conceito, criado pela escritora e professora universitária (UFMG), Leda Maria Martins, que quer imprimir oralidade com a mesma força da palavra escrita por meio de manifestações performáticas orais e corporais. A partir de seus estudos e experiências, Leda a cunhou a partir da cultura afrodescendente.
A terceira e última expressão verbalizada no discurso daquela noite foi a ESCREVIVÊNCIA. Oriunda de seus conhecimentos e experiências com ancestrais da cultura afro-brasileira, a escritora Conceição Evaristo quis produzir a valorização das mulheres negras.
Enfim, entre outros fatores que as une, nota-se a busca pela afirmação identitária das três. Claro, isso não é crime, mas repito, afrontar a língua portuguesa dentro da ABL é praticamente uma tentativa de profanar o lugar. Um acinte!
Eu sinto vergonha!
No conceito que dei no meu post não há do que se arrepender, mas cabe meu pedido de desculpas por não ter voltado os olhos à figura da Ana Maria, ainda que, reforçando o entendimento, infelizmente, a Academia se tornou um antro ideológico, aparelhado pelo politicamente estúpido.
O que nos assusta é saber que qualquer dia desse, o sagrado espaço da ABL pode servir a embates da resistência e diversidade, tendo como pano de fundo o uso ou não de expressões como denegrir ou caixa preta de um avião, impondo-as como ofensivas, ou entendimentos para uso de banheiros conforme o gênero escolhido pelo usuário, como preconceito. Vai ser triste! Acho que muitos acadêmicos sairão de seus túmulos.
Outro padrão que se observa há algum tempo na ABL é quando vemos alçados a usar o fardão acadêmico figuras notoriamente descoladas da missão da própria instituição. Inspirada pelo modelo da Academia Francesa, a ABL tem como missão o que vem escrito no artigo 1º do seu Estatuto -
Art. 1º - A Academia Brasileira de Letras, com sede no Rio de Janeiro, tem por fim a cultura da língua e da literatura nacional, e funcionará de acordo com as normas estabelecidas em seu Regimento Interno.
E quando vejo o disparate entre a quantidade de obras produzidas pelos acadêmicos como Machado de Assis (primeiro presidente da casa), Olavo Bilac, Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, Graça Aranha, Inglês de Souza, alguns dos 40 nomes da primeira formação da academia (1897), e vejo hoje nomes como dessa Ana Maria Gonçalves (quatro obras - duas delas textos teatrais) e Fernanda Montenegro (um livro e outro de coletânea de fotos de sua carreira), dá-se um certo desânimo com a intelectualidade. A questão não passa simplesmente pela quantidade de obras em si, mas sim, pela rica fonte de análises que o candidato dispõe.
Entre outros exemplos da mudança na dinâmica na eleição da ABL, nós encontramos o Gilberto Gil, cujo maior mérito foi ser considerado um poeta por suas letras e canções. Noel Rosa, o Poeta da Vila, Cazuza, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Cartola, por exemplo, nunca foram lembrados. E a Miriam Leitão? Melhor deixar pra lá…
Finalizo com um trecho do discurso do Machado de Assis quando de sua posse como presidente da Academia Brasileira de Letras em 1897. Tal trecho evidencia e dá a dimensão do pensamento linear naquele sublime momento da academia:
“O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância.”
Alexandre Siqueira
Jornalista independente - Colunista Jornal da Cidade Online - Autor dos livros Perdeu, Mané! e Jornalismo: a um passo do abismo..., da série Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Visite:
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