Lula reduz o Exército Brasileiro a um coadjuvante tímido e sem relevância na geopolítica internacional

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A sucessão de escolhas políticas do governo Lula produziu um efeito inédito na história recente do Brasil: o enfraquecimento visível do Exército como ator relevante na geopolítica internacional e, internamente, a sua transformação numa instituição acuada, hesitante e marginalizada dos grandes debates estratégicos do país. A condução do governo nas crises internas de segurança, nas discussões sobre crime organizado e no enfrentamento ao narcotráfico expôs essa fragilidade de forma incontornável.

As operações policiais realizadas recentemente pelas forças de segurança do Rio de Janeiro, sob comando direto do governador Cláudio Castro, revelaram mais do que a eficiência das polícias estaduais, escancararam a ausência deliberada do governo federal, que negou apoio operacional da Marinha e da Polícia Federal. Enquanto o Rio de Janeiro enfrentava facções armadas com capacidade quase militar, o governo Lula limitou-se a assistir. A repercussão interna e internacional foi imediata e nada positiva para Brasília. Em vez de liderança, transmitiu omissão.

O desconforto do Planalto com o tema da segurança pública materializou-se em uma reação apressada, com um pacote legislativo elaborado às pressas pelo entorno de Lula. O texto, apresentado como um avanço contra o narcoterrorismo, foi duramente criticado por especialistas de diversas instituições por, na prática, produzir efeitos inversos aos anunciados. Ao invés de endurecer o combate às facções, o projeto abriu brechas que podem beneficiar organizações criminosas, especialmente ao flexibilizar pontos sensíveis sobre tipificação e execução penal.

Com a Presidência da Câmara indicando o deputado Derrite como relator, o debate ganhou densidade. O parlamentar ouviu representantes do Judiciário, do Ministério Público, das polícias e de diferentes segmentos do Congresso. A própria Polícia Federal, ainda que discordando publicamente de premissas presentes na discussão, manifestou-se institucionalmente. Mas um silêncio chamou mais atenção do que qualquer fala, o silêncio das Forças Armadas. As instituições militares, que constitucionalmente têm papel direto no enfrentamento ao tráfico internacional de armas e no combate a organizações transnacionais, simplesmente não se manifestaram. Um apagamento tão anômalo quanto revelador.

A crise de imagem das Forças Armadas não começou agora. Desde o episódio de 8 de janeiro de 2023, quando, sob ordens judiciais e pressão política, cidadãos foram presos de forma considerada arbitrária por amplos setores da sociedade, o Exército viu seu prestígio corroído. A condução daquele episódio, conhecido como perfídia, marcou uma ruptura com a percepção histórica de moderação, equilíbrio e respeito institucional que caracterizava a Força. O resultado foi um Exército recolhido, acuado e sem protagonismo nos temas em que tradicionalmente exercia forte influência.

O cenário agrava-se quando surgem declarações atribuídas a generais do Alto Comando (pasme, feitas sob anonimato à imprensa) segundo as quais classificar o crime organizado brasileiro como terrorismo poderia “abrir portas” para eventuais intervenções ou operações de grandes potências em território nacional. A simples existência de avaliações desse tipo, independentemente de sua precisão ou intenção, revela que setores da cúpula militar passaram a se orientar mais pelo medo da repercussão externa do que pelo imperativo constitucional de proteção do país.

Enquanto isso, o tráfico internacional de armas continua avançando, as rotas transnacionais das facções permanecem ativas e a geopolítica do crime organizado se impõe com força crescente sobre o território brasileiro. O país vive hoje uma das maiores crises de segurança do mundo ocidental, com facções que operam como verdadeiros atores geopolíticos, e justamente nesse momento o governo federal distancia o Exército de qualquer papel estratégico relevante.

O resultado é um Brasil menos respeitado, menos preparado e menos capaz de dialogar de forma séria com as grandes potências sobre segurança internacional. O Exército, antes considerado uma instituição sólida, confiável e com peso diplomático, transformou-se numa sombra de si mesmo, não por falta de capacidade, mas por falta de governo. A omissão deliberada do Planalto não apenas esvaziou sua presença no debate interno, como comprometeu sua imagem externa. E, em um mundo em que a geopolítica é cada vez mais determinada por forças armadas capazes, articuladas e presentes, Lula conseguiu o improvável, tornar o Exército brasileiro irrelevante.

Foto de Henrique Alves da Rocha

Henrique Alves da Rocha

Coronel da Polícia Militar do Estado de Sergipe.