

Filho de imigrantes, ele próprio um imigrante, Zohran Kwame Mamdani nasceu em Campala, Uganda, em 18 de outubro de 1991. Ainda criança, com apenas sete anos de idade, veio para Nova York, cidade pela qual se elegeu prefeito na eleição municipal de 2025. Cursou o primário na Bank Street School for Children e o secundário na Bronx High School of Science. Estudou no Bowdoiin College, no Maine, onde foi cofundador do núcleo local da organização estudantil Students for Justice in Palestine (SJP) e se formou, em 2014, com o título de bacharel em estudos africanos.
Membro do Partido Democrata e dos Socialistas Democráticos da América, Mamdani é muçulmano, seguidor do islamismo, uma religião monoteísta abraâmica baseada nos ensinamentos do profeta Maomé. Os muçulmanos acreditam que o Alcorão é a palavra literal de Deus, e a religião se baseia em cinco pilares: a crença em Alá, a realização de orações diárias, a generosidade com os pobres, o jejum durante o mês do Ramadã e a peregrinação a Meca, quando possível. São aproximadamente 1,9 bilhão de pessoas no mundo, sendo a segunda maior população religiosa global, com a maioria vivendo na Ásia-Pacífico.
Jovem da Geração Y (Millennials) da era digital e da internet, Mamdani integra o grupo dos "nativos digitais", com grande familiaridade com a tecnologia, visando equilibrar a vida pessoal, profissional e valorizar as experiências, a proatividade e uma maior preferência pela flexibilidade no ambiente de trabalho. Durante a campanha publicou um vídeo em Urdu e um outro falando espanhol, demonstrando versatilidade linguística e profundo conhecimento na arte de conquistar o público. Casado com Rama Duwaji, uma artista síria de 27 anos que vive no Brooklyn e que conheceu no aplicativo de namoro Hinge, é filho de Mira Nair, uma renomada diretora de cinema, e do professor Mahmood Mamdani, da Universidade Columbia. Ambos os pais são ex-alunos de Harvard. Socialista democrático, sua campanha nasceu nas calçadas do Queens, nutrida por milhares de conversas porta a porta e alimentada por pequenas doações pessoais, potencializadas por um programa de matching público que multiplicava por oito cada contribuição de até duzentos e cinquenta dólares. Fez inúmeras promessas de difíceis cumprimento, como o aluguel que cabe no bolso, transporte gratuito para quem ganha pouco, supermercados subvencionados pelo governo, creches públicas e um salário-mínimo municipal de trinta dólares a hora, além da promessa de que não haverá corrupção em seu governo.
No primeiro discurso após a vitória, Mamdani disse que era jovem, mulçumano e um democrata socialista, e que se recusava a “pedir desculpas por todas essas coisas”. Sua vitória impôs uma barreira ideológica às políticas do governo Trump em seu segundo mandato, representando a atuação de uma nova estratégia para a corrida eleitoral legislativa do ano que vem. Suas promessas arrastaram milhões de eleitores nova-iorquinos da classe média, mas a dúvida é se elas são viáveis tanto no aspecto legal como no financeiro. Sua vitória indica uma perda de popularidade de Trump, além de expor as dificuldades internas do Partido Republicano.
O triunfo de Mamdani não foi o único registrado pelos democratas nestas eleições. Nos Estados de Nova Jersey e da Virgínia, a oposição ao governo federal também conseguiu impor seus candidatos. A democrata Abigail Spanberger venceu as eleições para o governo da Virgínia, derrotando a vice-governadora republicana do Estado, Winsome Earle-Sears. Em Nova Jersey, a deputada democrata Mikie Sherrill também venceu as eleições para o governo do Estado, sucedendo o democrata Phil Murphy após dois mandatos. Ela venceu o ex-legislador estadual Jack Ciattarelli, apoiado por Trump. A vitória de Mamdani para prefeito de Nova York marca uma guinada histórica do eleitorado, dando início a um acirramento das relações entre uma das mais importantes cidades dos Estados Unidos e o governo federal.
Para Trump, Mamdani se tornou o inimigo perfeito: jovem, eloquente, muçulmano, socialista e prefeito de Nova York. E os ataques já começaram. Discursando em Miami, Trump disse que ia retomar o controle da cidade. Mamdani, por sua vez, para se manter no poder e governar a cidade, terá de equilibrar pragmatismo e confronto, buscando entregar resultados concretos sem se tornar refém da retórica de que os Estados Um idos são o Grande Satã. O republicano já deixou claro que vê em Mamdani não apenas um adversário ideológico, mas uma ameaça simbólica que pode ser um ponto de partida para a reorganização do Partido Democrata contra seu governo. Não foi sem razão que, num Comicio em Miami, Trump afirmou que ia dificultar a vida de Mamdani e retomar o controle de Nova York.
Luiz Holanda
Advogado e professor universitário








