Mãe congela cordão umbilical e salva a vida do filho de apenas 5 anos

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Ana Cláudia Dantas, médica psiquiatra de 44 anos, salvou a vida de seu filho Arthur, de 5 anos, graças à decisão de preservar o cordão umbilical de seus três filhos. O menino foi diagnosticado com aplasia grave da medula óssea em maio de 2023, em Brasília. A condição impede a produção de células sanguíneas e foi tratada com transplante de células-tronco do cordão umbilical de seu irmão caçula, Vitor, então com 4 anos.

O material biológico do irmão mais novo apresentou 100% de compatibilidade com Arthur. O transplante foi realizado no Hospital Brasília menos de 40 dias após o diagnóstico, seguido por aproximadamente 70 dias de internação.

"Na faculdade, no estágio em oncologia pediátrica, vi uma mãe com um filho doente e tive certeza de que um dia eu passaria por isso. Tive um pressentimento", declarou Ana.

A decisão de preservar o material biológico dos filhos foi tomada anos antes, com apoio do pai de Ana, também médico, e de seu ex-marido, enfermeiro. Durante a gravidez de Arthur, ela teve outro pressentimento. "Tive a sensação de que ele morreria e eu ficaria apenas com minha filha mais velha", afirmou.

Quando Arthur começou a apresentar sintomas semelhantes aos de uma gripe, Ana enfrentou resistência da equipe médica para realizar exames específicos.

"Parecia que todo mundo achava que era paranoia minha. Eu insistia com os médicos para fazer uma biópsia de medula. Dentro de mim, eu sabia", disse ela.

Após a confirmação do diagnóstico, os testes revelaram a compatibilidade do material do irmão mais novo. "Meu terceiro filho salvou a vida do irmão", declarou Ana.

Segundo a médica Simone Franco, onco-hematologista pediátrica do Hospital Brasília, o procedimento seguiu os mesmos princípios dos transplantes realizados com outras fontes de células-tronco. As células do cordão foram descongeladas e aplicadas por meio de um cateter ligado a uma veia central, após preparo com quimioterapia e imunoterapia.

Durante o tratamento, o pequeno Vitor demonstrou sensibilidade extraordinária. "Ele dizia: 'daqui tantos dias vai acontecer alguma coisa, vai ser sinal de cura'. E acontecia. Quando a família chorava de medo, ele repetia: 'não sou eu que estou falando, foi Deus quem me contou'. Ver uma criança de 4 anos dar esperança para todos foi emocionante", relatou Ana.

Em janeiro de 2025, Arthur retornou ao convívio familiar. A readaptação exigiu psicoterapia para toda a família, pois ele sentiu ciúmes ao ver seus brinquedos e roupas sendo usados pelo irmão durante sua ausência.

Diagnosticado com altas habilidades, Arthur conseguiu acompanhar os estudos sem prejuízos acadêmicos. Ele ainda precisa usar máscara para evitar infecções e não pode praticar esportes de contato, mas mantém uma rotina saudável.

"Existe uma vida antes e uma vida depois de tudo isso. Aprendi pelo caminho mais difícil, mas aprendi para sempre", afirmou Ana Cláudia.

A aplasia medular que acometeu Arthur é um adoecimento da célula-mãe responsável pela produção de todas as séries sanguíneas. De acordo com Simone Franco, especialista em transplante medular pelo Instituto de Oncologia Pediátrica do GRAACC-Unifesp, os sintomas incluem palidez, febre, maior risco de infecções e sangramentos, além de petéquias e hematomas em locais incomuns.

O caso de Arthur foi de aplasia adquirida. Nas formas adquiridas, não há como prever quem desenvolverá a condição, embora fatores como exposição a pesticidas estejam associados ao seu desenvolvimento.

O sangue de cordão umbilical utilizado no tratamento é rico em células que produzem o sangue. "Essas células podem ser captadas tanto na medula óssea quanto no cordão umbilical", explicou Roberto Gil, diretor-geral do Inca.

O processo de preservação envolve o congelamento em hidrogênio líquido a -80°C, temperatura que mantém as células viáveis por tempo indeterminado. Ana Cláudia pagou aproximadamente R$ 3 mil para cada cordão congelado, além de uma anuidade que varia conforme a empresa contratada.

Segundo o Inca, menos de 1% dos transplantes realizados no Brasil utilizam sangue de cordão umbilical, pois a medicina contemporânea tem priorizado outros métodos.

A vice-presidente da SBTMO (Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea), Adriana Seber, esclareceu: "As sociedades médicas não indicam o congelamento de cordão como um 'seguro de vida'. A recomendação é armazenar apenas com indicação médica de transplante ou terapia gênica."

Para o Hospital Brasília, onde Arthur ficou internado, o caso demonstra como a preservação do cordão umbilical pode ser decisiva em circunstâncias específicas, mesmo com seu uso cada vez menos frequente na medicina atual.

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da Redação