Pai do PIX troca o Brasil por proposta irrecusável vinda dos Estados Unidos
16/11/2025 às 13:49 Ler na área do assinanteO principal responsável pelo desenvolvimento do Pix no Brasil, Carlos Eduardo Brandt, deixou o Banco Central após 23 anos na instituição. Ele agora vai integrar a equipe do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington. A mudança ocorreu há três meses, quando o executivo aceitou o convite para atuar na área de pagamentos e infraestruturas de mercados financeiros da instituição internacional.
O sistema de pagamentos instantâneos brasileiro completa cinco anos de funcionamento neste domingo (16) como referência mundial no setor financeiro. Durante o período em que Brandt trabalhou no BC, a autarquia conquistou protagonismo inédito no cenário financeiro global.
Em 2021, o executivo foi o único brasileiro a figurar na lista da Bloomberg que destacou 50 personalidades que transformaram os negócios globais naquele ano. O reconhecimento veio quando o Pix completava seu primeiro ano e já havia dobrado sua base de usuários, passando de 56 milhões para 113 milhões de pessoas.
Atualmente, o Pix atende 161,7 milhões de usuários pessoas físicas e 16,3 milhões de pessoas jurídicas. Dados da fintech Ebanx revelam que, em cinco anos, o sistema movimentou R$ 85 trilhões, valor equivalente a sete vezes o PIB brasileiro. A pesquisa indica que o Pix já ultrapassou o cartão de crédito em popularidade, sendo utilizado por 93% da população adulta do país.
As projeções indicam que o sistema alcançará 7,9 bilhões de transações mensais ainda em 2025, com movimentação anual estimada em R$ 35,3 trilhões, representando crescimento de 34% em comparação a 2024.
No FMI, organização que reúne 191 países membros, Brandt busca aplicar o conhecimento adquirido com a experiência brasileira para aprimorar o sistema financeiro internacional.
"A minha percepção foi de que eu poderia contribuir com outros países e numa escala global", explicou o executivo.
Entre seus desafios está a busca por soluções que facilitem pagamentos instantâneos entre países.
"Cada país tem sua legislação, mas também existem os padrões internacionais que todos têm que seguir. É um quebra cabeça um pouco mais complexo", ressalta o especialista.
Brandt acompanha iniciativas como o projeto de interligação financeira dos 16 países da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) e o Nexus, do BIS (Banco de Compensações Internacionais). O projeto Nexus, conhecido como "Pix internacional", propõe conectar sistemas de pagamentos de diferentes países para viabilizar transações instantâneas entre eles, com implementação inicial em cinco nações asiáticas.
Em seu novo papel, Brandt busca "tentar apoiar na medida que for possível essa agenda de pagamentos entre países", facilitando tanto transações entre pessoas físicas quanto operações comerciais entre empresas.
Tobias Adrian, diretor do departamento de mercados monetários e de capitais do FMI, destacou recentemente como imigrantes que enviam dinheiro para familiares enfrentam tarifas elevadas, pagando em média 6,5% do valor enviado. "Para fazer o sistema financeiro global dar certo, precisamos nos unir e fazer os pagamentos globais darem certo. Parte dos US$ 45 bilhões pagos anualmente aos provedores de remessas poderiam voltar para os bolsos dos pobres", afirmou.
Uma das características distintivas do modelo brasileiro é o papel central do Banco Central como desenvolvedor e operador do sistema. "Uma das coisas que norteou muito a definição do Banco Central como orquestrador foi a visão de que, para se alcançar um ecossistema de pagamentos que fosse realmente inclusivo, o mais apropriado seria ter um agente neutro", argumenta Brandt.
"E o agente neutro por excelência, no caso brasileiro, é o Banco Central, que é o regulador e não tem nenhum tipo de objetivo de lucro", complementa. Esta abordagem exemplifica o conceito de "infraestrutura pública digital", baseado na ideia de que certas soluções tecnológicas são de interesse público.
"O Pix entra como essa infraestrutura pública digital, ou seja, é um bem público de que a sociedade precisa e que não pode estar dependente de uma solução privada", afirma Brandt. Em 2023, a ONU lançou uma campanha para estimular a adoção desse tipo de infraestrutura em diversos países.
"O Brasil é uma referência mundial, mas vários outros países também têm essa visão e incorporaram essa iniciativa [das infraestruturas públicas digitais]", comenta o executivo.
Em julho de 2025, o Pix foi incluído na lista de investigações do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos sob alegação de prática comercial desleal. Quando questionado sobre essa investigação, Brandt destaca os benefícios mútuos que sistemas como o Pix podem proporcionar.
"As infraestruturas digitais públicas são um jogo de ganha-ganha", afirma. "Porque, à medida que você tem um processo de digitalização da economia, você tem um processo de digitalização amplo, em diversos segmentos", acrescenta, mantendo postura diplomática: "Cada governo é livre para tentar identificar e formar sua convicção em relação a cada configuração".
Ele reforça a convicção do BC em sua abordagem: "O que eu tenho a dizer é que o Banco Central do Brasil foi muito convicto naquilo que foi feito, sempre foi muito baseado em objetivos públicos que pudessem se traduzir em benefícios à sociedade brasileira".
O fundo de investimento Valor Capital Group, com atuação nos EUA e na América Latina, analisou recentemente o caso brasileiro. O relatório destaca que "o Brasil oferece um exemplo concreto de como uma infraestrutura digital coordenada e inclusiva pode acelerar o progresso", classificando o país como um "laboratório global de finanças digitais".
Além do Pix, o relatório menciona outras iniciativas brasileiras importantes, como o Open Finance e o gov.br, plataforma unificada de identificação digital do governo federal.
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da Redação