A farsa da COP30 no Pará à serviço da Família Barbalho
21/11/2025 às 19:48 Ler na área do assinanteApesar de ser a Sede da Cúpula da Amazônia e da Conferência do Clima em 2025, o Pará tem sido o campeão em falta de saneamento básico (70%) e em desmatamento na Amazônia, porque existem muitas falhas na fiscalização de setores-chave, como setor pecuário, garimpeiro e madeireiro. A liderança do desmatamento desde 2006 até 2023, entre os estados da Amazônia, colocou o Pará como maior emissor do país de gases de efeito estufa nos últimos 20 anos e também o campeão de multas ambientais no primeiro semestre de 2023. Segundo a DW a partir de dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) mostra que o valor das infrações é superior a R$ 18 milhões quando consideras apenas irregularidades no licenciamento ambiental.
Apenas em março de 2025, o desmatamento da Amazônia atingiu 167 km², uma alta de 35% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram destruídos 124 km². Entre os estados, Mato Grosso liderou a destruição em março, com 65 km² perdidos (39%). Em segundo ficou o Amazonas, com 39 km² (23%), e em terceiro o Pará, com 29 km² (17%). Ou seja: apenas esses três estados concentraram 80% de toda a destruição registrada na Amazônia no mês. Já o estudo do Imazon aponta que o Pará está entre os estados que mais desmataram a Amazônia em janeiro de 2025, sendo que o desmatamento na Amazônia Legal aumentou 68% em janeiro de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior, atingindo 133 km² de destruição florestal. Os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon apontam que o Estado ainda está no pódio da devastação (20%), atrás somente do Mato Grosso (45%) e Roraima (23%).
Mesmo tendo, a degradação florestal, em função das queimadas e extração madeireira, atingido em março deste ano 206 km², houve uma redução de 90% em relação ao mesmo mês do ano passado, que havia registrado o maior índice da série histórica para o período, de 2.120 km². Se considerado o calendário de desmatamento acumulado de agosto a março, é possível afirmar que houve um aumento de 329% na degradação florestal, que passou de 7.925 km² de agosto de 2023 a março de 2024 para 34.013 km² de agosto de 2024 a março de 2025, isso, em função das grandes áreas atingidas por queimadas nos meses de setembro e outubro de 2024, o que impactou a degradação florestal entre agosto de 2024 e março de 2025, que também foi a maior da série histórica, que iniciou em 2008. Entre os estados, o Pará mantém seu protagonismo negativo, sendo responsável por 91% da degradação registrada em março.
A parceria entre os herdeiros da família Barbalho, governador Helder e o seu irmão Jader, ministro da Cidades no governo Lula, conseguiram trazer os holofotes do campo da sustentabilidade global para o Pará, mas não houve uma preocupação real em modificar as práticas insustentáveis de destruição da floresta no Estado, já que o legado do COP 30 restringe-se a uma revitalização (maquiagem) das áreas turísticas de Belém (“banho de loja”), favorecendo sobretudo o seu abusivo setor hoteleiro. Acreditando que a simples presença de ambientalistas no Estado fosse capaz de modificar, ao passo de mágica, a mentalidade predominante do setor produtivo paraense, incompatível com um agricultura e desenvolvimento sustentável, esses políticos parecem copiar a estratégia de City-Marketing implantada pelos governadores do Rio Sérgio Cabral e Pezão, que confiaram na projeção dos megaeventos, como Rio +20 (2012), Jornada Mundial da Juventude (2013) Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016), como instrumentos civilizatório para implantar uma cultura de paz policialesca através da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Como vimos, com a chacina da Penha e Complexo do Alemão de 2025, a violência urbana estatal e paraestatal segue fazendo escola no Rio.
A COP 30 tem sido uma oportunidade de mudar esse estigma negativo do Estado, mas apesar disso, a capital, que não tinha rede hoteleira que comportasse um evento desse porte, deu um show de inflacionamento predatório, falsamente amparados pela lei da oferta e procura, sob a alegação de que a Constituição da República protege, a livre iniciativa (art. 1º, IV). No entanto, o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 39, X, considera prática abusiva a elevação “sem justa causa [do] preço de produtos ou serviços”. Apesar da liberdade econômica ser preservada no país, há jurisprudência que tipifica uma elevação desarrazoada de preços. O Código de Defesa do Consumidor também proíbe ao fornecedor de produtos ou serviços “exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva” (art. 39, V). Como a situação da COP30 se afigura inteiramente distinta de uma calamidade pública e difere dos interesses comerciais que ocorrem durante as festividades regionais do Círio de Nazaré, os preços abusivos privam as delegações, organismos e organizações internacionais de colaborar com uma pauta planetária, que deveria estar acima de interesses comezinhos.
Mas a confusão de superfaturamento envolve também obras públicas. E por isso, 3 meses antes do Evento, à pedido de investigação foi feito pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, em 26 de fevereiro deste ano o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de um inquérito para investigar uma suposta organização criminosa no Pará que teria arregimentado policiais para fazer saques milionários, cometido crimes eleitorais e praticado corrupção envolvendo uma licitação de R$ 142 milhões do governo do Pará para obras da COP 30. O caso envolve suspeita de envolvimento do deputado Antônio Doido (MDB-PA) da base aliada da família Barbalho, além de outras 11 pessoas, incluindo o secretário de Obras Públicas do Pará, Ruy Cabral, e o policial militar Francisco de Assis Galhardo do Vale, apontado como segurança do parlamentar.
A estratégia de utilizar da causa ambiental como cortina de fumaça para biografia de famílias consideradas corruptas, coronelistas e filhotistas foi utilizada por Sarney Filho no Maranhão, que se utiliza do Partido Verde para tentar dar um ar fresco para sua biografia, que tem que lidar com o passivo de escândalos associados ao seu sobrenome. Com os Barbalho não é diferente, porque a ficha corrida do patriarca é invejável no mal sentido. O paraense Jader Barbalho, que já ministro duas vezes no governo José Sarney, presidente do Senado, envolveu-se em diversos escândalos de corrupção nos cargos públicos, tendo sido investigado por crimes como peculato, lavagem de dinheiro, crimes contra o sistema financeiro e formação de quadrilha, principalmente relacionados ao desvio de verbas da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e de outras instituições, o obrigou ele a renunciar ao mandato de senador em 2001 para evitar a cassação e chegou a ser preso em 2002, mas foi liberado após 13 horas.
Em 2014, o STF abriu uma nova ação penal contra ele pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro, envolvendo o desvio de R$ 22,8 milhões da Sudam. Além dos desvios da Sudam, ele também foi acusado de envolvimento em fraudes em licitações, desvios do Banco do Estado do Pará (Banpará) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), conforme a denúncia apresentada pela senadora Marinor em 2011. No entanto, alguns processos foram arquivados sem julgamento após decisões da Primeira Turma do STF em 2015 devido à prescrição da punibilidade, ou seja, o tempo para julgar havia expirado.
Mas como filho de Barbalho, Barbalho, os irmãos vivem de advogado em advogado para se manter na vida pública pois que têm enfrentado investigações e acusações ao longo de suas carreiras. Helder foi citado em investigações relacionadas à Odebrecht, enquanto o pai, Jader Barbalho, foi alvo de vários processos judiciais que foram arquivados. Jader Barbalho Filho, embora não diretamente acusado de crimes, foi alvo de uma queixa-crime movida pelo próprio Jader contra um deputado por injúria, calúnia e difamação.
Em 2017, um delator da empreiteira citou Helder Barbalho em relação a um suposto recebimento de R$ 1,5 milhão para sua campanha eleitoral de 2014. A acusação alegava que o dinheiro teria sido uma contrapartida por interesses da Odebrecht no Pará. Helder Barbalho afirmou que as doações que recebeu eram legais e que sua prestação de contas de campanha foi aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral. Em 2021, o Ministério Público Eleitoral pediu ao TSE a cassação de Helder Barbalho por abuso de meios de comunicação e veiculação de informações falsas.
Em 2017, Jader Filho apresentou uma queixa-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra deputado estadual Wladimir Costa (SD-PA), que o chamou de "feio pra caramba" e o acusou de ter "pego o chifre de uma amiga". Na ocasião, esse polêmico deputado também afirmou que a família Barbalho representava a maior organização criminosa do país e que "Barbalho é sinônimo de roubo", o que a justiça e TCE-PA e TCU terão mais uma oportunidade para provar, quando forem prestadas as contas das obras da COP 30. O que se sabe até agora é que legado não haverá, só mais um espetáculo de pajelança com dinheiro público.
Frederico Assis Brasil. Professor Urbanidade na UFSJ, com doutorado no Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da UFRJ e idealizador do Oposição com Liderança.
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da Redação