A ascensão do ativismo da Geração Z: Uma força global de mudança
22/11/2025 às 20:21 Ler na área do assinanteA Geração Z se consolidou como uma força global que desafia governos e exige responsabilidade, demonstrando sua frustração com o status quo em diversos países. Esses jovens, nascidos entre 1995 e 2010, estão liderando uma onda de protestos que se espalha de Madagascar ao Marrocos, do Paraguai ao Peru, com o intuito de mostrar que o descontentamento transcende fronteiras geográficas.
Os protestos liderados pela Geração Z não começaram em um único lugar, mas surgiram no mundo todo, impulsionados por problemas como corrupção, desigualdade econômica e falta de oportunidades. Suas ações têm desafiado governos e estruturas de poder estabelecidas em diversas partes do mundo. A repressão a esses movimentos tem sido feita por meio da violência policial e do uso da força, uma resposta comum dos governos.
Em Bangladesh, a ex-primeira-ministra Sheikh Hasina foi forçada a se exilar na Índia após a violenta repressão a protestos estudantis. A ONU estima que 1.400 pessoas morreram nos distúrbios iniciais. No poder há 15 anos, Hasina era uma das mulheres mais poderosas da Ásia. Desde sua queda, o país é governado por um governo interino liderado pelo Nobel da Paz, Muhammad Yunus, visando as eleições de fevereiro. Ela foi sentenciada à pena de morte.
Em Madagascar, por exemplo, manifestações contra a falta de energia e água culminaram na deposição do então presidente, com uma unidade militar de elite assumindo o poder após o voto de impeachment pelos parlamentares. De forma similar, no Nepal, protestos alimentados pela insatisfação com a corrupção e o nepotismo levaram à renúncia do primeiro-ministro. Os manifestantes invadiram o parlamento e incendiaram escritórios do governo. Cerca de setenta pessoas foram mortas. Pouco antes do início dos protestos, o governo do Nepal decretou a proibição da maioria das plataformas de mídia social, como Facebook e Instagram. Embora a justificativa oficial fosse combater o discurso de ódio e as notícias falsas, a medida foi interpretada pelos jovens nepaleses como uma tentativa de silenciamento e restrição à liberdade de expressão em um momento de crescente agitação social.
No Quênia, a Geração Z tem utilizado as ruas e as plataformas digitais para pressionar o governo por reformas. No Marrocos, manifestações recentes resultaram em mais de 120 prisões em um único fim de semana, destacando um novo tipo de ativismo. Diferente dos protestos tradicionais, essas mobilizações foram sem liderança formal e orquestradas através de plataformas digitais como Tik Tok e Discord, por grupos como o Gen Z 212 e o Morocco Youth Voices. A Geração Z, que representa a maior parcela da população do país, expressa sua desesperança e exige melhorias radicais no sistema. Clamam por reformas urgentes na saúde e na educação, salários mais altos, melhores empregos, preços reduzidos e uma vida digna.
Jovens insatisfeitos com a reforma da previdência, a instabilidade econômica, o aumento da criminalidade e a corrupção do governo de Dina Boluarte ocuparam as ruas de Lima. Após sua destituição, as manifestações continuaram contra José Jerí, e o governo chegou a declarar estado de emergência, quando é possível mobilizar os militares nas ruas para patrulhar e restringir direitos como a liberdade de reunião. A imprensa nomeou os eventos de “protestos da Geração Z”, comparando-os aos movimentos bem-sucedidos liderados por jovens no Nepal, com pautas semelhantes.
A "Marcha da Geração Z" no México ganhou o apoio da população. Convocada pelas redes sociais, a manifestação pretendia ser pacífica, uma crítica à escalada da violência e às ações do governo Sheinbaum na área de segurança, mas terminou com feridos e detidos.
O elemento unificador e catalisador desses movimentos é a forma como são organizados e impulsionados: pelas redes sociais. As plataformas digitais permitem uma mobilização rápida e ampla, superando as barreiras da mídia tradicional. O ativismo da Geração Z utiliza as redes sociais para uma comunicação instantânea. Os jovens unem o ativismo online à forte presença nas ruas, traduzindo a indignação digital em ação física. O foco se expande de questões locais para demandas por mudanças estruturais, como democracia e justiça social. A Geração Z é uma força política global que usa a tecnologia para catalisar transformações.
No entanto, o surgimento do ativismo digital levanta um questionamento sobre sua durabilidade e impacto real. Especialistas alertam que essa mesma dependência das redes pode se tornar um fator de enfraquecimento e têm dúvidas se as manifestações virtuais conseguem gerar mudanças estruturais e duradouras ou se a facilidade de mobilização nas redes se traduz em um engajamento frágil nas transformações políticas complexas.
Simone Salles
Jornalista, Mestre em Comunicação Pública e Política