
A morte de um renomado economista, escritor e consultor brasileiro
27/11/2025 às 22:09 Ler na área do assinante
A morte de Stephen Kanitz, anunciada na segunda-feira, 24, encerra a trajetória de um dos economistas e pensadores mais influentes na administração brasileira. O consultor, escritor e professor da USP morreu aos 79 anos, em São Paulo, sua cidade de origem. A família optou por não divulgar as causas do falecimento.
Boa parte de sua reputação sólida foi construída justamente na capital paulista, onde ele se dedicou a transformar o ambiente acadêmico e empresarial. Tornou-se referência no estudo da gestão moderna, da análise de risco e da contabilidade aplicada, áreas nas quais sua atuação teve impacto duradouro.
Kanitz formou-se em Contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP) e, mais tarde, aperfeiçoou sua formação com um mestrado em Administração de Empresas na Harvard Business School, instituição de renome internacional que moldou muitas de suas abordagens práticas.
Reconhecido como professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, prestou contribuição decisiva na formação de novos profissionais, influenciando centenas de administradores e contadores ao longo das décadas.
A projeção de Kanitz também se estendeu muito além das salas de aula, alcançando a mídia e a filantropia. Um de seus momentos mais marcantes ocorreu em 1974, quando publicou na Revista Exame o artigo “Como Prever Falências”. Nele, apresentou o algoritmo que ficaria conhecido como o “Termômetro de Kanitz”, ferramenta criada para avaliar o risco de crédito com base em dados contábeis. Esse modelo abriu espaço para democratizar o acesso ao crédito, favorecendo pequenos empreendedores e parcelas mais vulneráveis da sociedade, que antes encontravam barreiras significativas.
Em 1975, deu início à edição anual Melhores & Maiores, também na revista Exame. Este projeto introduziu no Brasil o conceito de benchmarking empresarial, oferecendo um ranking detalhado das empresas mais bem administradas — responsáveis por cerca de 20% do PIB. O levantamento consolidou-se como uma das bases de dados corporativos mais robustas do país e ajudou a difundir práticas eficientes de gestão.
A presença de Kanitz na imprensa foi igualmente marcante. Como comentarista da TV Cultura e colunista da revista Veja, especialmente na seção “Ponto de Vista”, manteve diálogo constante com o público sobre dilemas econômicos, sociais e filosóficos, sempre com tom crítico e reflexivo.
Sua carreira foi acompanhada de uma série de prêmios, como o ABAMEC Analista Financeiro do Ano, o Prêmio ANEFAC e o Jabuti, concedido pelo livro “O Brasil que Dá Certo“, publicado em 1994. Além disso, integrou conselhos relevantes e atuou como árbitro da BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado, reafirmando sua defesa da transparência e da integridade no meio financeiro.
No universo corporativo, exerceu consultoria para empresas nacionais e internacionais, mas não restringiu sua atuação ao setor privado. Seu engajamento social tornou-se uma de suas marcas registradas. Em 1992, fundou o site Voluntarios.com.br, considerado pioneiro na articulação de trabalho voluntário no país. Posteriormente, lançou Filantropia.org, uma das primeiras plataformas brasileiras dedicadas a doações online.
Dois anos mais tarde, em 1994, criou o Prêmio Bem Eficiente, destinado a reconhecer anualmente as 50 organizações sem fins lucrativos mais bem administradas. A iniciativa reforçou sua convicção de que a boa governança é indispensável também no terceiro setor.
Sua trajetória intelectual foi caracterizada pela inquietação constante e pela busca de soluções aplicáveis. Além das aulas e consultorias, participou de centenas de palestras no Brasil e no exterior, onde frequentemente discutia maneiras práticas de aprimorar a gestão e estimular a responsabilidade social.
Em seu blog pessoal, Kanitz explorou temas como filantropia estratégica — defendendo que empresas direcionassem recursos com foco em impacto verificável e resultados mensuráveis — e reflexões existenciais. Em um de seus textos, ao discutir a morte, afastou-se de interpretações religiosas tradicionais e descreveu-se como “um ateu feliz”, posição que, segundo ele, fortalecia seu apreço pela liberdade de pensamento e pela ética baseada na responsabilidade individual.
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