A consumação do golpe da toga: a decisão de Gilmar desmoraliza o Senado e sepulta a democracia

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A decisão proferida por Gilmar Mendes, nesta manhã, alterando profundamente o rito de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, não pode ser tratada como um simples debate jurídico. O ministro retirou da sociedade e do Senado, casa legislativa composta por representantes eleitos pelo povo, a prerrogativa de iniciar processos de responsabilização contra ministros do próprio STF, transferindo tal poder exclusivamente para a Procuradoria-Geral da República e impondo quóruns mais rígidos para que o Senado sequer dê andamento a tais pedidos.

Não se trata meramente de uma reinterpretação da lei, de constitucionalidade ou inconstitucionalidade, trata-se de uma demonstração de força desmoralizando não apenas o Senado da República, mas também a Câmara dos Deputados, pois em verdade, Gilmar Mendes está legislando. Montesquieu se revira no túmulo.

Politicamente, o impacto é muito maior, pois enfraquece o Parlamento, esvazia o papel do Senado e cria um círculo de proteção ao Judiciário praticamente impermeável à crítica social e institucional. A Constituição, aqui, deixa de ser parâmetro, passando a ser troféu de disputa entre poderes que tentam ver “quem manda mais”.

Não estamos diante de uma discussão jurídica, mas de uma batalha por poder. Uma batalha em que o Senado perde, o cidadão perde e o STF se blinda. O Brasil avança, sem freios, rumo a uma espécie de “ditadura da toga”, se é que ja nao está. Uma forma de autoritarismo institucional que não precisa de tanques nas ruas, mas de decisões monocráticas que moldam, restringem e silenciam.

A liberdade de expressão já sofreu duros golpes nos últimos anos, temos jornalistas e deputados exilados. A interferência do Judiciário em questões eleitorais alimentou a certeza de que os poderes perderam o equilíbrio. Agora, com essa liminar, a mensagem que chega à população é uma só: o Senado, eleito pelo povo, já não decide; o cidadão já não denuncia; o Judiciário já não é fiscalizado. Se antes havia tensão, agora há subordinação.

Onde isso termina?

Se o Legislativo é enfraquecido, se a sociedade é afastada dos mecanismos de controle e se o Judiciário acumula prerrogativas sem limites claros, chegamos a uma democracia apenas no nome, sustentada por ritos, mas esvaziada de substância.

O risco não é imaginário. É real e crescente.

Como é uma decisão monocrática, com viés claramente político, também ilegal e inconstitucional, o senado precisa encontrar mecanismo para sustá-la o mais rápido possível, antes de ir a plenário no STF.

O país precisa, urgentemente, recuperar o equilíbrio entre os poderes. Do contrário, o Brasil seguirá avançando, não rumo ao futuro que desejamos, mas ao passado que juramos nunca mais repetir.

Foto de Henrique Alves da Rocha

Henrique Alves da Rocha

Coronel da Polícia Militar do Estado de Sergipe.

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