
Informações encontradas no notebook do ex-delegado-geral de SP podem finalmente elucidar o crime
04/12/2025 às 19:04 Ler na área do assinante
Investigadores localizaram no notebook de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado geral da Polícia Civil de São Paulo, um rascunho de dossiê que seria entregue ao Ministério Público estadual (MPSP) denunciando supostas irregularidades em licitações na Prefeitura de Praia Grande. O documento foi descoberto após seu assassinato, ocorrido em 15 de setembro na Baixada Santista.
O material encontrado documentava 11 processos licitatórios realizados entre 2021 e 2025 que, segundo anotações de Ferraz, teriam sido "fraudadas" para beneficiar a empresa Peltier, especializada em sistemas de monitoramento por câmeras. Em suas observações, o ex-delegado escreveu sobre os funcionários supostamente envolvidos:
"Estão ricos, vivendo em apartamento de luxo, carros importados e viagens para o exterior".
O dossiê mencionava três servidores municipais, incluindo Sandro Rogério Pardini, atual subsecretário de Gestão e Tecnologia da administração municipal, uma funcionária do Departamento de Integração da Informação da Secretaria de Planejamento, e um engenheiro de telecomunicações que teria desclassificado empresas concorrentes melhor posicionadas em um processo licitatório.
A Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Praia Grande investiga as suspeitas levantadas por Ferraz. Em 3 de outubro, a polícia realizou uma operação com mandados de busca e apreensão contra cinco funcionários municipais, embora o documento elaborado pelo ex-delegado não tenha sido formalmente incorporado aos autos do inquérito.
Em depoimentos à polícia, os servidores investigados relataram duas reuniões com Ferraz nos dias anteriores ao seu assassinato. Segundo eles, o ex-delegado demonstrou irritação, chegando a expulsar uma funcionária de seu gabinete quando esta pediu para ele "abaixar o tom" durante uma discussão.
O primeiro encontro ocorreu após a desclassificação das três empresas melhor colocadas em um pregão eletrônico iniciado em 1º de setembro. A Avenue, que apresentou a melhor proposta, foi eliminada sob alegação de que seu modelo de câmera não possuía lente verifocal. A segunda colocada, Alerta, foi desclassificada porque seus equipamentos seriam fabricados em aço carbono, não atendendo à especificação de aço inox. A New Line, terceira na classificação, teria apresentado documentação incompleta. Com essas eliminações, a Peltier foi declarada vencedora.
Um promotor envolvido na denúncia contra os oito supostos responsáveis pelo assassinato contestou a relação entre o crime e as investigações sobre fraudes licitatórias.
"Não existe essa prova hoje de que as ilegalidades que o Dr. Ruy estava investigando tenham relação com o crime. Isso já inclusive foi constatado e está sendo investigado. Só que se isso surge posteriormente, em nada muda o panorama de que o PCC tinha a ordem para matar o Dr. Ruy e que os seus agentes executaram", afirmou o promotor, que falou sob condição de anonimato.
A conexão entre o crime e o Primeiro Comando da Capital (PCC) foi estabelecida pelo MPSP com base em um "salve" emitido pela organização criminosa em 2019 contra Ferraz, além do suposto envolvimento dos executores com a facção. Duas semanas antes de ser assassinado, o ex-delegado havia suspendido uma licitação que garantiria um contrato de R$ 14 milhões à empresa Peltier, após suspeitas de desclassificação arbitrária de concorrentes.
Apesar da denúncia apresentada pelo Ministério Público "cravando" que o assassinato foi encomendado pela facção, os promotores não especificaram quem seriam os mandantes diretos do crime. O documento aponta indivíduos que teriam participado na execução, sem identificar claramente os atiradores.
Felipe Avelino da Silva, conhecido como Masquerano, e Flávio Henrique Ferreira de Souza foram identificados por impressões digitais no Jeep Renegade utilizado no crime. As autoridades não determinaram quando eles estiveram no veículo.
Umberto Alberto Gomes, apontado como possível atirador, foi identificado por material genético encontrado nas residências utilizadas pelos criminosos em Mongaguá e Praia Grande. Ele fugiu de São Paulo e morreu em 30 de setembro em Curitiba, após confronto com forças policiais.
Luiz Antônio Rodrigues de Miranda, conhecido como Gão, é apontado como motorista do veículo da execução. Segundo investigações, ele teria solicitado o transporte da arma utilizada no crime, um fuzil, de volta para São Paulo.
Os demais denunciados são proprietários dos imóveis utilizados pelo grupo criminoso. Paulo Henrique Caetano de Sales, conhecido como PH, além de ceder propriedade, tem características físicas semelhantes às de um dos atiradores. William Silva Marques e Cristiano Alves da Silva também teriam disponibilizado imóveis para o grupo.
A hipótese de relação entre o homicídio e a atuação de Ferraz na Secretaria de Administração de Praia Grande foi mencionada no relatório final do inquérito policial, mas não aprofundada. As investigações continuam em andamento.
Em resposta às questões, a Prefeitura de Praia Grande afirmou:
"A Prefeitura de Praia Grande destaca que o Ministério Público de São Paulo (MPSP) confirmou que o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes foi assassinado a mando do alto escalão do Primeiro Comando da Capital (PCC) como vingança. O anúncio ocorreu no último dia 21 de novembro".
A administração municipal acrescentou:
"Na oportunidade, o MPSP descartou a hipótese de uma relação da morte dele com a sua gestão como secretário de Administração municipal e denunciou oito pessoas pela execução do ex-delegado-geral. As denúncias foram baseadas no resultado final da primeira fase das investigações do caso realizadas pela Força-Tarefa criada pela Secretaria de Estado da Segurança".
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