Netflix adquire por US$ 82,7 bilhões o mais tradicional estúdio de Hollywood e causa alvoroço no mundo do cinema

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A Netflix anunciou na sexta-feira (6) a aquisição da Warner Bros Discovery em uma transação avaliada em US$ 82,7 bilhões, incluindo dívidas. O acordo, que une o maior serviço de streaming do mundo a um dos estúdios mais tradicionais de Hollywood, será concluído após a Warner separar sua divisão de TV a cabo em empresa independente, processo previsto para finalização até o terceiro trimestre de 2026.

A fusão entre os gigantes do entretenimento precisa superar barreiras regulatórias nos EUA. O presidente Donald Trump manifestou reservas quanto à operação, que enfrenta críticas de profissionais da indústria cinematográfica, incluindo roteiristas e cineastas.

Com mais de 300 milhões de assinantes, a Netflix fortalecerá sua posição ao incorporar os 128 milhões de usuários da HBO Max. A união criará um conglomerado com maior poder de negociação frente a exibidores cinematográficos e sindicatos da indústria.

A Warner traz consigo propriedades intelectuais como as franquias da DC Comics, Harry Potter, além de séries da HBO como "Game of Thrones", "Euphoria", "The Last of Us" e "The White Lotus".

Jorge Paes, consultor e professor de Comunicação da PUC-SP, afirma que o principal objetivo da Netflix é acessar conteúdo premium.

"Embora a Netflix seja forte com séries, ainda tem presença tímida nos cinemas com algumas produções que concorreram e ganharam o Oscar. Agora, a plataforma passa a ter presença mais forte", declarou Paes. "Ela deixa de ser uma empresa de streaming para se tornar empresa de mídia e entretenimento, podendo criar novas produções e gerar mais receitas com licenciamentos e jogos."

Anderson Viana Lago, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, observa que a Warner enfrenta desafios com o declínio da TV linear, segmento que representa 42% de sua receita total. Ele alerta para o risco de repetição dos erros estratégicos ocorridos nos anos 2000, quando a fusão entre Warner e AOL resultou em um dos piores negócios corporativos.

Jesper Rhode, analista e sócio da consultoria Tr4nsform.com, contextualiza que a Netflix possui aproximadamente 36 mil horas de conteúdo em seu catálogo atual. Este volume é considerado modesto quando comparado ao YouTube, plataforma que recebe quantidade equivalente a cada 70 minutos.

"A compra do acervo da Warner representa um movimento essencial, de ter um conteúdo mais elaborado e profundo, que a Netflix não tem de forma nativa. Produções da HBO como 'The Sopranos', 'Succession' e outras séries icônicas entram nessa categoria", afirmou Rhode.

Atualmente, a Netflix tem acesso a alguns desses conteúdos apenas por licenciamento temporário. Com a aquisição, todo o catálogo da Warner, incluindo franquias como Harry Potter e séries como "Game of Thrones", "Euphoria" e "The Last of Us", passará a fazer parte permanente do portfólio da empresa.

Victor Azevedo, coordenador de Publicidade e Propaganda no Ibmec-RJ, avalia que esta movimentação pode desencadear uma onda de fusões no setor.

"A Disney vai se movimentar em relação a isso e a Paramount também. O que pode acontecer é outras produtoras tirarem o restante do conteúdo disponível na Netflix e cada estúdio ficar com seu próprio streaming e catálogo", afirma.

A proposta da Netflix incluiu a promessa de manter os lançamentos nos cinemas para os filmes da Warner Bros Discovery. A Warner detém aproximadamente 25% da venda de ingressos de cinema na América do Norte, o que equivale a cerca de US$ 2 bilhões.

Profissionais da indústria cinematográfica expressam preocupações. Um grupo de produtores enviou carta ao Congresso dos EUA manifestando "graves preocupações" sobre a compra.

"A Netflix considera qualquer tempo gasto assistindo a um filme no cinema como tempo que não é gasto em sua plataforma", dizia a carta, segundo o New York Times. "Eles não têm incentivo para apoiar as exibições nos cinemas e têm todo o incentivo para eliminá-las."

O Sindicato dos Roteiristas da América posicionou-se contra a transação.

"A maior empresa de streaming do mundo engolindo uma de suas maiores concorrentes é exatamente o tipo de situação que as leis antitruste foram criadas para impedir", disse o sindicato em comunicado.

James Cameron, diretor de sucessos como Titanic e Avatar, declarou que a operação "seria um desastre".

A atriz Jane Fonda, vencedora do Oscar e estrela da série "Grace e Frankie" da Netflix, também se manifestou contrária ao negócio:

"Consolidação nesta escala seria catastrófico para uma indústria construída sobre a liberdade de expressão, para os trabalhadores criativos que a sustentam e para os consumidores que dependem de um ecossistema de mídia livre e independente para compreender o mundo".

Segundo análise do Itaú, as duas empresas poderiam obter economia de custos de US$ 2,5 bilhões a partir do terceiro ano após a conclusão da transação. "A Netflix tem histórico excelente de alocação de capital e disciplina financeira, mas o nível de alavancagem, as sinergias e a aprovação antitruste são preocupantes", afirmou o banco em relatório.

No dia do anúncio, as ações da Netflix registraram queda de quase 3%, enquanto os papéis da Warner Bros Discovery subiram 6%. Para concluir o negócio, a Netflix precisará de um empréstimo de US$ 59 bilhões, figurando entre as maiores operações financeiras deste tipo.

Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, defendeu a aquisição em teleconferência:

"Em um mundo onde as pessoas têm tantas escolhas, mais do que nunca, sobre como passar seu tempo, não podemos ficar parados. Precisamos continuar inovando e investindo em histórias que importam para o público, e é disso que trata este acordo. A combinação da Netflix com a Warner Bros. cria uma Netflix melhor para o longo prazo."

Com esta aquisição, a Netflix superou a Paramount, que vinha tentando comprar a Warner. O Departamento de Justiça dos EUA deve investigar o negócio para avaliar como a operação pode fortalecer a posição dominante da Netflix na indústria de mídia.

A Netflix incorporará ao seu catálogo a saga Harry Potter, cuja nova série sobre a trajetória do bruxo em Hogwarts tem estreia prevista para 2026 ou 2027. O acordo também traz para a plataforma o universo de super-heróis da DC Comics e sucessos da HBO como "A Casa do Dragão" e "O Cavaleiro dos Sete Reinos".

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Fonte: O Globo

da Redação