
Confusão toma conta de julgamento, juíza manda retirar advogados e diz: "OAB que se dane" (veja o vídeo)
18/12/2025 às 14:40 Ler na área do assinante
Uma decisão tomada durante uma sessão do Tribunal do Júri em Cuiabá (MT) gerou forte repercussão no meio jurídico e levou à anulação do julgamento. A juíza Mônica Cataria Perri Siqueira, titular da 1ª Vara Criminal da capital mato-grossense, determinou a retirada de advogados ligados à Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e acionou a Polícia Militar para cumprir a ordem.
O júri foi encerrado e o Conselho de Sentença dissolvido, com nova data marcada para 12 de maio de 2026.
O episódio ocorreu na segunda-feira, dia 15, durante o julgamento do investigador da Polícia Civil Mário Wilson Vieira da Silva Gonçalves, réu pelo homicídio do policial militar Thiago de Souza Ruiz, ocorrido em abril de 2023. Imagens que circularam nas redes sociais mostram a magistrada afirmando “A OAB que se dane” e dizendo que poderiam “até chamar o presidente da OAB”, enquanto determinava a saída dos advogados do plenário.
No dia seguinte, terça-feira 16, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) divulgou nota oficial informando que integrantes da defesa teriam tentado registrar imagens dos jurados, prática vedada por normas do Conselho Nacional de Justiça e por entendimento consolidado da jurisprudência. Segundo o tribunal, a restrição busca preservar a identidade e a segurança dos jurados, além de garantir a independência do julgamento.
De acordo com informações publicadas pelo portal Jota, o promotor de Justiça Rodrigo Ribeiro Domingues, do Ministério Público de Mato Grosso, afirmou que a atuação da defesa foi desrespeitosa em relação à magistrada e que houve tentativa de influenciar testemunhas. Ele relatou que a acusação solicitou o registro em ata de comportamento considerado agressivo, tom elevado e descumprimento de ordens judiciais. A defesa, segundo o promotor, não assinou o documento.
Versão da defesa diverge
A defesa do réu, no entanto, nega que tenha havido gravação dos jurados. O advogado Claudio Dalledone classificou essa alegação como falsa. Em vídeo divulgado posteriormente, ele afirmou que um tenente-coronel da Polícia Militar tentou apaziguar os ânimos e que a interrupção da sessão partiu da juíza. Dalledone sustentou que houve violação de prerrogativas profissionais durante a oitiva de uma testemunha e anunciou que levará o caso ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), falando em “abuso de autoridade”.
Áudios da sessão indicam um ambiente de tensão, com elevação de vozes entre advogados e a magistrada. Em determinado momento, um advogado grita e, na sequência, é possível ouvir a palavra “misógino”. No dia seguinte ao episódio, a juíza decidiu dissolver o Conselho de Sentença ao considerar que a discussão poderia ter influenciado os jurados que presenciaram o confronto.
Em nova manifestação, o TJMT afirmou que houve um desentendimento generalizado entre acusação e defesa e que a magistrada interveio com o objetivo de preservar a urbanidade e a ordem dos trabalhos. O tribunal voltou a destacar a proibição de registros audiovisuais da audiência, especialmente dos jurados, apontando esse fator como determinante para a dissolução do conselho.
O caso também provocou reação da Ordem dos Advogados do Brasil. O procurador nacional de Defesa das Prerrogativas da OAB, Alex Sarkis, divulgou um vídeo classificando o episódio como grave e inaceitável. Segundo ele, prerrogativas profissionais não constituem privilégios, mas garantias legais do exercício da advocacia. Sarkis afirmou ainda que o Conselho Federal adotará medidas para evitar a repetição de situações semelhantes.
Há registro de um episódio anterior envolvendo o advogado Claudio Dalledone em um júri realizado em 2018, em Curitiba. À época, ele afirmou ter vencido o processo relacionado ao caso e sustentou que sua atuação ocorreu dentro das regras do Tribunal do Júri.
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