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A Delação Premiada de José Dirceu

Abandonado pelos companheiros José Dirceu refaz sua Via Crucis com destino quase certo para a cadeia, mas agora sem nenhum Simão para ajuda-

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Há algum tempo alguns interlocutores próximos de José Dirceu vinham dando testemunho da preocupação que habitava a sua mente. Um deles chegou a afirmar que Dirceu teria dito, “se eu for preso agora, não saio mais.”

Dá para imaginar as razões de tamanha inquietação de quem foi o segundo homem mais forte do Partido dos Trabalhadores e do Governo Lula.

Ao tempo do Mensalão Dirceu gozava de grande prestígio no campo político com forte atuação no partido e no próprio governo, quando exercia o cargo de Chefe da Casa Civil.

Durante todo o período de investigação do Mensalão, Dirceu manteve-se sereno, mas, não menos combativo aos ataques que sofria; tanto ele quanto o próprio partido que ajudou a fundar.

Àquela época, do alto dos seus cinquenta e tantos anos, com o apoio irrestrito de Lula, do PT e de todos os militantes e aliados, Dirceu encontrava forças mais do que necessárias para suportar as pressões das acusações que lhe pesavam sobremaneira, deixando inequívoca a sua disposição de esconder nas sombras o chefe maior, Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula, por sua vez, fazia a defesa aberta de todos os petistas que desfilavam nas folhas dos autos da ação penal nº 470, mais especialmente, José Dirceu e José Genuíno.

Relembrança rápida:

Ambos, figuras “ponta de lança do petismo”, acreditavam que passariam incólumes pelo Mensalão, o que não aconteceu; os dois foram condenados.

José Dirceu, no ano de 2012, pelo julgamento da Ação Penal originária no STF nº 470, foi condenado à pena de dez e dez meses pelos crimes de corrupção ativa e formação quadrilha, além da condenação ao pagamento de uma multa de R$ 676 mil, em regime fechado a ser cumprido no complexo penitenciário da Papuda; José Genuíno, no mesmo julgamento, foi condenado a seis anos e onze meses pelos mesmos crimes e multa de R$ 468 mil em regime inicial de cumprimento de pena no semiaberto.

Mais tarde, em fevereiro de 2014, o Supremo Tribunal Federal decidiu por via de embargos infringentes que oito dos condenados naquela Ação Penal, não cometeram o crime de formação de quadrilha. Com o reconhecimento do não cometimento deste crime, Dirceu e Genuíno tiveram suas penalidades diminuídas e recalculadas as penas, o que permitiu a reversão para o regime inicial de cumprimento de pena no semiaberto chegando atualmente, pela via da progressão, que Dirceu continuasse o cumprimento de sua pena em regime domiciliar. Genuino, em março deste ano (2015), teve reconhecida pelo STF a extinção de sua pena com fundamento na concessão de indulto de Natal editado pela Presidente Dilma Rousseff ao final de 2014.

Volto ao presente.

José Dirceu, agora se vê arrastado para dentro das investigações da chamada operação Lava-jato. Preso preventivamente no último dia três, Dirceu torna a habitar a carceragem da Polícia Federal de Curitiba, por ordem do Juiz Sérgio Moro.

Sobre ele pesam indícios de práticas reiteradas dos mesmos crimes pelos quais já havia sido condenado no Mensalão. O que diferencia uma situação da outra é o campo de atuação, embora não se distanciem um do outro.

Como já escrevi antes, noutro artigo, do que trata sobre Mensalão e Petrolão “tudo leva a crer que nestas coisas umas decorrem das outras. A diferença está no campo de atuação das quadrilhas, mas tudo faz parecer parte do mesmo pacote de apropriação do Estado”.

É por esta razão, e mais outras, que José Dirceu volta ao palco.

A pergunta que fica é: Aos 68 anos de idade, com a saúde debilitada, pai de uma criança de cinco anos incompletos, tendo também agora a outra filha, bem como, o próprio irmão – este já preso – sob investigação e ambos correndo o risco de serem arrastados para uma condenação futura, José Dirceu estaria com o mesmo animus domini para enfrentar as novas acusações e assumir solitariamente o eminente castigo que acena para si e seus amados ou decidirá por entregar os nomes de seus cúmplices em homenagem a redenção e troca de benefícios para si e sua família? 

O caminho do Juiz Sérgio Moro já está bem claro para todos os investigados. Sua vigilância com a lei denota um magistrado determinado, destemido e que sabe esperar o tempo certo para as coisas certas. Aos poucos as mentiras vão caindo e junto com elas muitas pessoas de nobili genere natus, seja pela classe a que pertencem, seja pela influência que imaginavam exercer sobre autoridades que poderiam lhes salvar a pele, dormem hoje sobre um colchão de dúvidas.

José Dirceu sabe disso e, certamente, também já se fez essa pergunta e deve estar ponderando sobre a disposição de Moro e de... Lula! – Qual será a sua escolha: o Martírio em prol de uma ideologia ou a Libertação do corpo e do espírito pela via da Delação Premiada?

A resposta, talvez, chegue antes do que imaginamos.

JM Almeida

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JM Almeida

João Maurino de Almeida Filho. Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Jurídicas. 

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