De mãe para mãe, médica responde a mãe de Sérgio Cabral e texto viraliza

24/01/2018 às 09:15 Ler na área do assinante

A mulher da foto é a mãe do ex-governador Sérgio Cabral Filho, dona Magaly Cabral. Ela fez um veemente 'desabafo', logo após o filho ser algemado para ser conduzido da prisão no Rio de Janeiro até o complexo médico-penal de Pinhais, em Curitiba (PR).

Veja abaixo o depoimento da mãe do criminoso:

“O desabafo é de uma mãe indignada com a Justiça deste país. Meu filho não é um bandido perigoso para sair algemado nos pés e nas mãos. Não estou dizendo que não cometeu erros, mas ontem (quinta) foi um exagero. Que a Justiça vá resolver o que se passa com os bandidos que da cadeia dão ordens de matar, invadir etc”.

Não demorou e veio a melhor resposta, que viralizou nas redes sociais e partiu de uma médica, uma pessoa que acompanhou de perto o sofrimento de milhares de pessoas.

Abaixo veja o texto:

Dona Magaly Cabral,
Também sou mãe. E nas horas vagas sou médica. Trabalho em um hospital público. de uma universidade estadual no Rio de Janeiro.
Como tal, assisti, impotente, a uma enxurrada de solicitações de medicações essenciais para a vida de milhares de pessoas ser negada por falta de compra. Vi, aterrorizada, centenas de leitos serem fechados no HUPE por falta de repasse de verba e tive, desesperada, que negar admissões e internações justamente por falta de leitos.
O que durante algum tempo parecia ocorrer pela crise financeira se mostrou uma farsa.
Descobri, perplexa, que o dinheiro de merenda escolar e remédio era desviado para que o governador do Estado e sua esposa advogada esbanjassem em iate, quadros, viagens com fotos cafonas, joias e privada automatizada.
E, não por acaso, este senhor era seu filho.
Desculpe a minha falta de empatia, mas discordo categoricamente da sua afirmação. Seu filho não “cometeu erros”.
Ele fez algo mais grave. Ele cometeu crimes.
C-r-i-m-e-S. No plural. É fato que ele não deu ordens de matar, a partir da cadeia. Por um motivo muito simples: ele matou muita gente com sua caneta, que lhe foi concedida para cuidar deste estado e não para se esbaldar em Paris com guardanapos na cabeça e Loubotin nos pés.
Da cadeia ele não “mandou invadir”. No entanto, os lares dos cidadãos do estado foram invadidos com as imagens das mordomias concedidas ao seu filho. Enquanto milhares de presos semianalfabetos, negros e pobres apodrecem na cadeia superlotada, onde adquirem, entre outras coisas, tuberculose e sarna. E de sua nora desfrutando do conforto do seu apartamento no Leblon, ao passo que outras milhares de mães presidiárias são afastadas dos seus filhos.
E não, não compartilho da máxima que as mães podem tudo. Caso não tenha percebido, vou lhe contar um segredo: seu filho lhe deu presentes caros nos últimos anos? Saiba que eles custaram os rins, corações e fígados de pessoas doentes.
Humilhação é mendigar remédios e salários que lhe são devidos por direito. É ser achincalhado publicamente pelo seu patrão, como nós médicos fomos. É assistir inúmeros pacientes morrerem por falta de antibiótico e perderem seus transplantes por falta de imunossupressores.
Dona Magaly, me desculpe se não sinto compaixão e se acho que as algemas são um castigo leve demais.
Ao contrário da senhora, sou mais uma médica tentando enxugar gelo todos os dias, além de tentar reconstruir, com muito trabalho, o hospital que seu filho quebrou.
Infelizmente, o meu lamento não desfaz a desgraça das inúmeras famílias que seu filho provocou.
Isso sim faz sentido, minha senhora.
Francinne Machado Ribeiro, médica reumatologista

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da Redação
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