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Não existe pecado abaixo da linha do equador

Lula aprendeu o caminho das pedras

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Na Praça da República, ontem, em São Paulo: "Mandela ficou preso 27 anos. Nem por isso a luta diminuiu e ele foi eleito presidente". (Lula da Silva)

Pois é! Quem sabe ainda teremos um presidente eleito com 100 anos de idade ou mais.

E o que se pode tirar desse pequeno ensaio? Bem, todos sabem, e eles sabem mais ainda: a conquista da hegemonia. Lula não é eterno, mas seus ideais – ou o que ele assim classifica – podem sim perpetuarem-se e atar grilhões em jovens consciências que se obstinarão pela perpetuação do mito criador.

Este resiliente pescador de almas – entre as quais, e todas as outras, é a mais pura do planeta terra – sabe bem dominar a massa e multiplicar sectários. Apesar de tudo o que contra ele se lança Lula se mostra altivo, mais vívido e disposto ao revide. Suportado por uma horda barulhenta e errante desafia os poderes nacionais sem papas na língua, e vai construindo uma caterva para a posteridade com a ameaça esperançosa de continuar, por bom tempo, a sua obra.

Lula aprendeu o caminho das pedras e fez de si o messias da modernidade e do velho novo,  que tem por maliciosa tarefa levar o povo já esfolado, espoliado e sem esperanças para a terra prometida, uma Canaã da América do Sul, muito longe das Colinas de Golã e onde se fala o português-brasileiro, carente não raras vezes de correção gramatical e de boa dose de dição e dicção.

O sujeito desafia a ânsia do homem mediano, aquele que não se deixa levar pela bazófia do orador de 500 mil dólares americanos, a não construir qualquer pensamento sem lembrar-se de Montesquieu ou de Maquiavel, e quem sabe ainda também de SunTzu ou Mani, só que de uma maneira mais chata e menos instrutiva; apenas intuitiva e exonerada. É chato pensar em Lula de maneira séria; o que ele gosta mesmo é de sarrar com o corpo do Estado.

Lula não quer só o poder, Lula quer cabeças, Lula quer mentes, braços e corpos; Lula quer o mundo que para ele resume-se na América Latina. Lula quer Lula por Lula. Acha que seu legado é pequeno diante do mundo – que existe deste lado da linha do equador – que sente ainda capaz de produzir.

Quem tem medo de Lula, afinal? Talvez os seus próximos, que de tão próximos, com ele se confundem.

Quando sobe o tom de sua voz rouca para vociferar contra os que têm por seus algozes, resta um ranço quase insuportável parecendo a descrição do inferno dantesco que representa bem sua própria divina comédia.

Lula já fez o seu próprio escrutínio do Estado brasileiro representado por seus três poderes e, ao que parece, aferiu por cotejo de medidas, pesos e contrapesos a sua sobrevalorização à deles; por tal, faz o que faz. Talvez os seus oito anos de governo – somados aos de Dilma Rousseff – tenham lhe ensinado a lidar com essas querelas e querelantes, a ponto de apresentar-se sobranceiro frente ao peso da pena de 12 anos e um mês de prisão em regime fechado que o aguarda n’algum lugar do caminho, este campo minado por outras tantas ações penais.

Lula reafirma a ideia geral de um dos livros de Maquiavel donde se extrai a máxima “a corrupção de cada governo quase sempre começa com a dos princípios”.

Nossa jornada nesse hiato vintenário tem sido esse testemunho da violação dos princípios republicanos. Deve haver mais do que se pode supor ou imaginar nos bastidores onde outrora só os poderosos transitavam; Lula soube conquistar o seu lugar nesta coxia onde ora se escoiceiam ora se encoxam na sarrada política.

Lula é um episódio, por enquanto, na história do Brasil; um anátema passageiro, mas que, reconheço, tem potencial para deixar sequelas.

JM Almeida

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JM Almeida

João Maurino de Almeida Filho. Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Jurídicas. 

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