Como irritar um petista, deixá-lo irado e completamente transtornado

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Quer deixar um petista puto, corrija o português dele.

Ele se sente no direito de dar aulas de história, de subverter as noções mais elementares de matemática, de ideologizar a biologia – mas não ouse tocar no português dele.

A gramática, na sua opinião, é uma forma de opressão, e qualquer reparo que se faça a uma sintaxe enviesada, a uma construção dúbia, é preconceito linguístico.

Para o petista, o Ministério Público está errado, a Polícia Federal está errada, a 1ª instância está errada, a 2ª instância está errada, o STJ está errado e, dependendo do resultado, nem o STF estará certo – mas vá você dizer que a concordância verbal dele está capenga para ver o que acontece.

A língua culta tem, para ele, um gravíssimo defeito: é culta.

Cultivá-la dá trabalho, exige estudo, obediência a regras, apreço à lógica. Demanda investimento em educação, requer leitura. E quem muito lê muito ouve e muito vê.

A língua culta é um perigo, um instrumento de dominação da zelite. Ela permite formular argumentos com clareza, leveza, elegância. Ela dispõe de um vasto vocabulário, e cada palavra tem um significado próprio, carrega uma sutileza.

Ali, estupro é estupro, assédio é assédio.

Meritocracia é um princípio de justiça (a promoção se dá por competência, por merecimento, não pelo compadrio ou pela cooptação).

Fascismo é fascismo, democracia é democracia.

Golpe é golpe, fraude é fraude.

Filosofia é filosofia, assalto é assalto.

Há, inclusive, dicionários, que são cofres onde se guardam as palavras para que não sejam molestadas, ou, caso se percam por algum descuido, possam ser reencontradas.

O petista impõe que você concorde com ele, mas dispensa as concordâncias verbais e nominais. Quer um Estado que reja sua vida, mas ignora o que seja uma regência. Tem por dogma o politicamente correto, mas considera o gramaticalmente correto uma forma de intolerância.

Petistas são impermeáveis a fatos e argumentos. Mas, para sustentar suas premissas, dependem da linguagem. A lógica é seu calcanhar de Aquiles - e a gramática, sua kriptonita.

Deixe um petista puto. Corrija o português dele.

Foto de Eduardo Affonso

Eduardo Affonso

É arquiteto no Rio de Janeiro.

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