O desserviço social em horário nobre!

10/02/2018 às 05:42 Ler na área do assinante

Completo em 2018, 14 anos de formação como profissional da saúde mental.

Já estive atuando na Assistência Social, avaliando e atendendo especificamente demandas de violência sexual contra crianças e adolescentes, como Psicóloga Forense e há 10 anos presto assistência técnica em lides que envolvem desde casos comprovados de violência sexual, até frequentemente, falsas alegações desta violência.

Tenho publicada uma Dissertação de Mestrado, entendam: pesquisa científica, versando sobre as questões da violência sexual.

Enquanto docente universitária ministro desde disciplinas relacionadas ao psicodiagnóstico de casos de violência sexual, como também a disciplina de psicologia jurídica, direcionando os futuros operadores do Direito a adotar postura ética frente a esta lide,  pois estou vinculada dentro da instituição de ensino em  que atuo aos cursos de Psicologia e Direito, e talvez a essa altura do texto, vocês, caros leitores, estejam perguntando-se aonde quero chegar, assim explico.

Tanto eu, quanto outros profissionais preparados, titulados e dedicados a tratar a tão complexa rede da violência sexual conhecemos termos como, sugestionabilidade, revitimização, memórias implantadas, falsas memórias, culpa da vítima, entre outras tantas de tamanha importância na dinâmica deste tipo de violência.

Imagino também quantos profissionais, assim como eu, estejam resignados com o desfavor e o desserviço social que a Rede Globo de Televisão tem feito ao público brasileiro, abordando a violência sexual de forma irresponsável, pois não aborda a temática de maneira adequada, tampouco apresentou até o presente momento, aos seus telespectadores o manejo adequado do diagnóstico à intervenção da problemática, sem considerar os interesses perversos por traz da trama em utilizar-se da dor do sujeito como objeto de vingança, e coloca ainda operadores do Direito rompendo princípios éticos na suposta busca da verdade.

Além disso, apropria-se de uma violência que devasta a vida de milhares de crianças e adolescentes, com uma dor perpetuada pelo resto de sua existência, com interesses mercadológicos, pois, aos que ainda não sabem, o Insituto Brasileiro de Coaching (IBC) financia ação de merchandising neste folhetim.

Discussões a parte sobre o livre exercício de coach e hipnose por profissionais de diversas categorias, o próprio Conselho Federal de Psicologia (CFP) em Resolução 13/2000 determina, inclusive, que os psicólogos que queiram se valer da técnica como recurso terapêutico sejam capacitados, leia-se, façam cursos específicos para tanto.

“Coaching é um processo de planejamento estratégico do indivíduo para que ele possa sair de onde está no presente e chegar aos objetivos que quer alcançar no futuro, sem falar, em momento algum, do passado ou utilizar qualquer técnica como a hipnose”, explica Sulivan França, presidente da Sociedade Latino Americana de Coaching (SLAC) em oficio enviado à Rede Globo. 

Sem deixarmos de considerar que qualquer técnica de acesso a conteúdos inconscientes é extremamente delicada, pois quando feita de maneira irresponsável pode trazer prejuízos irreversíveis ao funcionamento psíquico do sujeito.

Além de todo o exposto acima, somos obrigados a “engolir” as justificativas infundadas da emissora quando explica que se trata de uma obra de ficção! Esquecendo-se de questões tão básicas e debatidas nos cursos de Marketing e Publicidade, como as das Mensagens Subliminares e suas ações no inconsciente social, de fato, sem isso de nada valeria o investimento do IBC, não é mesmo?

É público e notório que fazemos parte de uma nação onde a maior parte da população é desprovida de capacidades críticas e se afoga tanto nesta ignorância quanto na política e cultural.  Tão conhecido também é o fato de que no horário deste folhetim milhares de brasileiros, principalmente os desprovidos de financiar um canal pago, está conectado, sofrendo uma violência tão ou mais séria que a própria violência sexual, a da informação, mesmo que ficcional, inadequada e equivocada. 

O espetáculo grotesco: um policial que deveria manter a lei e a ordem como pedófilo, advogados que deveriam portar-se de forma ética participando de uma vingança perversa, a vítima revitimizada, e por aí afora.

A realidade: milhares de famílias vulneráveis influenciadas a buscar ajuda inadequada e perigosa! 

Diagnóstico de violência sexual se faz unicamente com técnicas específicas e profissionais preparados! Justiça se faz com ética e tramites legais, o resto é pandemia desnecessária, assim como essa moderna “coisificação” midiática da sexualidade... mas sobre esta, em breve me manifestarei.

Patrícia Barazetti

Psicóloga clínica e forense. Especialista em intervenções psicossociais. Mestre em Educação. Professora em cursos de graduação e pós-graduação. Pesquisadora em assuntos relacionados a temas sociais, envolvendo adolescentes infratores, crianças vítimas de violência sexual, serial killers e outras formas de violência. Atua em casos jurídicos de grande repercussão nacional e internacional.

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