Se intervenção der certo, pode ser o "Plano Real" de Temer

17/02/2018 às 21:47 Ler na área do assinante

Surgiu o mais forte pré-candidato à presidência pelo 'Centrão' (o bloco de partidos formado por PMDB, PP, PR, PSD, PTB, PROS, SD, PRB e afins que comanda o Brasil).

Michel Miguel Elias Temer Lulia.

Sim, você não leu errado. Estou falando de Michel Temer.

Veja um trecho do discurso dele ao decretar a intervenção federal no Rio de Janeiro:

"Nós, que já resgatamos o PROGRESSO no nosso País e retiramos, sabem todos, o País da pior recessão da sua história, nós agora vamos restabelecer a ORDEM".

Ordem e progresso. Frase da bandeira nacional. E um ótimo slogan eleitoral. Mais patriota, impossível.

Pense um pouco. O presidente é o único que não precisa sair de seu cargo para concorrer e tem até dia 15 de agosto para decidir se participa da eleição ou não.

As opções de apoio do Centrão são tão ou mais chuchus do que ele. Se o Plano Doria for descartado, sobram Meirelles (que não tem apoio nem do próprio partido) e Alckmin (que não tem apoio do grão-tucano FHC, responsável por tentar fritar sua candidatura toda semana, e não se move nas pesquisas mesmo sendo governador do estado mais populoso do país há quase 8 anos).

Temer poderia aliar o poder da máquina federal - que continuaria comandando - com um grande bloco de apoio, o que significaria muito tempo de televisão, muito dinheiro do fundo partidário e eleitoral para campanha (limitado, *no papel*, a R$ 70 milhões), uma enorme estrutura local de campanha (prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais) e concorrentes a menos na disputa.

A intervenção federal no Rio, guardadas as devidas proporções, é o "Plano Real" de Temer. Se funcionar e reduzir a sensação de insegurança dos cariocas até as eleições, Temer transformará a pauta de Bolsonaro em pó. Não faz sentido votar em quem apenas promete se o eleitor pode votar em quem já faz.

Anti-esquerda? Não existe nome mais anti-esquerda no Brasil neste momento do que Temer, de acordo com a própria esquerda que grita "Fora Temer" até em fila de açougue. Note que nenhum esquerdista grita "Fora Bolsonaro" por aí.

Pautas reformistas? Temer tem a Reforma Trabalhista (com o fim do imposto sindical), a PEC do Teto, a mudança na taxa de juros do BNDES para acabar com o bolsa empresário nos próximos anos e ainda teve colhões para tentar passar a Reforma da Previdência (que, agora, ganha uma ótima desculpa para ficar para 2019: a própria intervenção federal que impede a votação de PECs). A segurança aos investidores de que a pauta de reformas continuaria estaria garantida.

FHC tinha 8% de intenções nas pesquisas no final de 1993 contra 42% de Lula. Acabou eleito no primeiro turno no ano seguinte com 54% dos votos. Sem Lula, o jogo fica totalmente aberto este ano. Não é nada impossível que Temer resolva, ele próprio, defender o seu governo numa campanha de reeleição.

E isto também interessaria aos partidos aliados. O DEM poderia ser atraído para o bloco com o apoio do MDB a candidatos a governador como Cesar Maia (RJ) e ACM Neto (Bahia), além da manutenção de Rodrigo Maia na presidência da Câmara. O PSDB custaria mais caro, talvez uma vice-presidência, o apoio a Alckmin senador (e posteriormente presidente do Senado) e Doria governador de SP (eleição ganha no primeiro turno com o pé nas costas), mas nada de outro mundo.

Tudo depende, claro, da tal intervenção funcionar. Mas você sabe como é o Brasil: tudo passa a funcionar no ano eleitoral, obras são inauguradas, tudo muito lindo e maravilhoso, e políticos são reeleitos graças a isto. Depois das eleições todo mundo percebe que não se resolve problemas complexos com intervenções pontuais (e que custam rios de dinheiro), mas aí Inês é morta.

A intervenção federal no Rio é o Temer 2018. E pode dar certo.

PS: Também estaria garantida a manutenção do novo Ministério da Segurança Pública, o qual poderia eventualmente abrigar um novo ministro em 2019, como um candidato à Presidência que tivesse a pauta da segurança...

(Texto de Marcelo Faria. Empreendedor e presidente do Ilisp)

(Agradecimentos ao Pedro Henrique Ferreira pela conversa virtual que gerou esta análise)

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