A fantasia da intervenção no Rio

05/03/2018 às 05:40 Ler na área do assinante

Por mais que me esforce, não consegui compreender até agora os motivos que levaram o Exército a se submeter sem qualquer oposição ou protesto ao papel ridículo que seus comandados lhes impuseram no sentido da intervenção total na segurança pública do Rio de Janeiro.

Caso o motivo encontrado pelo Comandante e Chefe das Forças Armadas, Presidente Michel Temer, para dita intervenção, tenha sido meramente para fins de “promoção política”, como mais parece, utilizando indevidamente o Exército para tal fim, sem dúvida estaria se configurando flagrante abuso de poder, ”brincando” com o Exército, apesar dessa atitude ter sido homologada, em conluio, pelo Ministro da Defesa e Comandantes Militares.

Para começo de conversa, os militares destacados para comandar e operar a dita intervenção não são treinados nem habilitados a lidar com segurança pública. O treinamento necessário é bem diferente.

Essa operação poderá apresentar alguma semelhança com os acontecimentos da Guerra do Vietnam, nos anos 50, onde os soldados norte-americanos, uns ‘grandalhões’ bem nutridos, armados até os ‘dentes’, bem diferente dos franzinos soldados vietcongues, ainda assim levaram deles uma tremenda surra no meio da selva hostil, ‘habitat’ de um inimigo com armas no máximo para abater ‘passarinhos’.

Mas esse confronto frente-a-frente entre o Exército e os bandidos a serviço dos traficantes nos morros do Rio, NÃO vai acontecer. O “poderio” bélico do Exército interventor, pouco mais vai servir do que para ser filmado e fotografado. Sua utilidade maior vai estar na “debandada” em massa dos bandidos, que não são “burros”, como poderiam pensar as autoridades, em submeter-se a confrontos armados diretos com o Exército.

É claro que a estratégia “militar” dos bandidos será o recuo, a retirada provisória, possivelmente para bem longe, até... que as “coisas se acalmem”!

É evidente que os militares não vão ficar nos morros para sempre. Os delinquentes só terão que ter um pouco de paciência e esperar o retorno dos soldados aos seus quartéis. Aí eles voltam para agir como sempre agiram, no crime, com plena consciência de que o território é deles, e de mais ninguém. Sempre foi assim e continuará sendo. Só as autoridades não enxergam.

Parece que os governantes e militares não têm conseguido inteligência suficiente para enxergar que não basta “espantar” bandido provisoriamente, como sempre fazem. Bandido tem que ser eliminado do convívio com a sociedade, morto ou encarcerado.

Essa estratégia “burra” fincou raízes fundas na cultura policial, não só nos morros dos traficantes, mas em qualquer lugar onde haja delinquentes. A chegada da polícia nos redutos do crime é geralmente acompanhada de muito “escarcéu”, percebido a quilômetros pelos bandidos, mais parecendo que o propósito não seria capturar nenhum marginal, porém   espantá-lo para o lugar mais distante possível. Essa tática equivale mais ou menos àquela do avestruz, que esconde a cabeça no buraco imaginando que assim o predador não verá o seu corpo.

Com certeza, a política de segurança pública no Brasil é mais uma daquelas “faz-de-conta”, dentre tantas outras.                    

Sérgio Alves de Oliveira

Advogado, sociólogo,  pósgraduado em Sociologia PUC/RS, ex-advogado da antiga CRT, ex-advogado da Auxiliadora Predial S/A ex-Presidente da Fundação CRT e da Associação Gaúcha de Entidades Fechadas de Previdência Privada, Presidente do Partido da República Farroupilha PRF (sem registro).

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