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Espaço ecológico e irresponsabilidade política

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Segundo as estatísticas da National Oceanic and Atmospherie Administration, dos EUA, 2017 foi o ano mais quente, no qual não sentiu o efeito do El Niño. Foi também o segundo mais quente, 0,9 grau centígrado acima da média de 1951 a 1980; o terceiro mais quente com temperaturas 0,84 grau centígrado acima da média de todo o século XX.

É assustador, segundo a NOAA, porque “ao todo, 17 dos 18 anos mais tórridos a que a humanidade foi submetida desde 1880, quando a medição começou, ocorreram de 2001 para cá, e os três últimos anos ainda conseguiram ser pior do que os precedentes”. E pode piorar muito nos próximos anos, como assinalam os dados da NASA referentes ao rápido aquecimento no Ártico, com o real perigo de desprendimento de gigantescas placas de gelo. A consequência imediata é o aumento do volume dos oceanos que está alterando a estrutura geográfica e, consequentemente, a alteração de todo o ecossistema.

Dizem os historiadores que o ciclo planetário terra já passou por grandes cataclismas que destruíram considerável quantidade de espécies de vida (na verdade foram extinções em massa), dando espaço para a geração de outras tantas espécies. Às transformações da crosta terrestre associaram-se também as transformações do mundo biológico, como não poderia deixar de ser. Ao que parece os seres humanos não foram responsáveis pelos fatos do passado porque não detinham tecnologia para tanto.

Nos dias atuais, entretanto, o homem “civilizado” está instrumentalizado para provocar outro cataclisma terrestre, talvez em maiores proporções que os anteriores devido à complexidade do povoamento existente. Nesse contexto os governantes e os empresários brasileiros contribuem com eficiência e sem pressa, lenta e continuamente destroem o “espaço ecológico” em nome da expansão do aparelho produtivo nacional.

Os exemplos são muitos, mas destacaremos apenas dois. Primeiro, o rompimento da barragem de Fundão (barragem de rejeitos de mineração), em Bento Rodrigues, no município de Mariana, Minas Gerais, administrada pela Samarco Mineração S.A. (que é controlada pela empresa brasileira Vale S.A e pela Anglo-australiana BHP Billiton) que despejou 62 milhões de metros cúbicos na região. A lama chegou à bacia do rio Doce (que abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo). Esse desastre causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos. Os ambientalistas avaliam que os efeitos dos rejeitos no mar permanecerão por mais de cem anos.

A história tende a se repetir em Barcarena com a empresa mineradora Hydro Alunorte, da norueguesa Norsk Hydro, que é a maior refinaria do mundo e explora bauxita no Pará. Em fevereiro, após fortes chuvas, houve vazamentos de rejeitos da mineradora na região. Constatou-se a existência de chumbo, bauxita e soda cáustica no solo e águas das comunidades vizinhas. O governo brasileiro deixou o “barco navegar”, apenas determinando o corte da produção em 50%.

Destaque-se que a Samarco Mineração S.A. e a Hydro Alunorte são grandes financiadoras de campanhas eleitorais não só nas regiões onde atuam, mas em quase todo o território nacional. Por outro lado, o ministro de Meio Ambiente é José Sarney Filho (PV), filho e herdeiro político do patriarca José Sarney (PMDB, sem P).

O Acordo de Paris é um tratado estabelecido entre 196 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A Primeira Conferência das Partes (países), denominada COP aconteceu em 1995, em Berlim, objetivando evitar que a interferência humana no sistema climático global ultrapasse limites considerados perigosos. O Brasil foi a grande estrela da COP15, realizada em Copenhague, e agora é candidato a hospedar a COP25 que acontecerá em 2019. Infelizmente o que tem para apresentar não é nada promissor.

Foto de Landes Pereira

Landes Pereira

Economista e Professor Universitário. Ex-Secretário de Planejamento da Prefeitura de Campo Grande. Ex-Diretor Financeiro e Comercial da SANESUL. Ex-Diretor Geral do DERSUL (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). Ex-Diretor Presidente da MSGÁS. Ex-Diretor Administrativo-Financeiro e de Relações com os Investidores da SANASA.

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