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O lobo e o povo

O político brasileiro perdeu o senso! O povo apurou o seu!

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O artigo mais abaixo escrevi em 03 de julho de 2013. E por que o reproduzo tanto tempo depois? A resposta é bastante simples: nada mudou que não seja para pior.

Antes, porém, algumas considerações.

As imposturas dos Chefes dos Poderes da República chegam a enojar até mesmo os que se mantêm afastados da política; é o que tenho percebido e conversas informais, com petistas, inclusive.

O grande acordo que se desenha entre os presidentes dos três Poderes para, segundo justificam, buscar uma saída menos dolorosa e mais efetiva para a recuperação da saúde econômica e resolver a crise política que se instalou no Brasil e ganhou peso após o início do segundo mandato presidencial de Dilma Rousseff não passa na verdade de uma tentativa descarada de livrar todos das garras da justiça. Chegamos a tal ponto que ninguém faz questão de esconder ou disfarçar mais nada; as manobras politiqueiras acostumadas a nascer nos bastidores agora são escancaradas com o fito de emprestar aparência de coisa lícita, legítima e aceitável.

O político brasileiro perdeu o senso! O povo apurou o seu!

Ninguém, absolutamente ninguém que tenha um mínimo de discernimento se entrega na crença fácil de que quem está sendo investigado por crimes vários, ou que já tenha um histórico de ver-se livre de outros desarranjos cometidos à custa do poder que o cargo lhe empresta; que já demonstrou ter compromisso exclusivamente com os seus próprios interesses; de uma hora para outra resolve abençoar o país com um rol de soluções mágicas, soluções tão altaneiras e imperiosas que nem sequer os Ministros da Economia e da Fazenda tiveram a capacidade de construir!

O povo tem voltado às ruas. A cada manifestação o governo se agita em apresentar novas soluções para atender as demandas da sociedade. Até aqui, nada do que foi prometido aconteceu, ao contrário, os desmandos se avolumaram, ganharam corpo em denúncias premiadas, levaram e têm levado alguns a cadeia enquanto outros vivem o inferno da expectativa de serem arrastados para dentro do olho do furacão.

Aqueles que gozam de um poder maior e de uma tal força que consegue aglutinar outras figuras importantes da República a lhes fazer ao redor um muro de proteção, ainda guardam esperanças de passarem ilesos pelo tufão do poder judiciário que está no topo da pirâmide; O STF e o foro privilegiado.

Os amigos de ontem podem ser os inimigos de hoje, e vice-versa! Tanto faz.

Lembrando George Orwell: “A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime seja respeitável”.

Não há, creio eu, um pensamento tão adequado ao que estamos testemunhando na política brasileira.

Eu, particularmente torço para que a manifestação popular do último dia dezesseis encerre esse ciclo de festa cidadã e se transforme definitivamente no que realmente ela deve ser: a expressão dura e vigorosa da determinação de um povo para mudar este estado de coisas.

Que a próxima, se houver, seja um grande acampamento que só se levante e se disperse quando restauradas as virtudes da democracia, ainda que sob um mesmo governo; mas, sabedor, por fim, de que todo o poder emana do povo que ele representa.  

Penso assim porque desde 2013 temos vivido nessa filosofia barata em que se aposta numa reviravolta e tudo se recomponha sem sacrifícios; soluções não nascem de aglutinações humanas multifacetárias nem de panelaços nem apitaços nem de gritos de ordem. Nasce, sim, de ações efetivas e legais.

Recuperar o que foi perdido – aquelas coisas mensuráveis – em parte é possível; o impossível está em recuperar o intangível, como a mácula gravada na história de uma nação que está sendo violentada por um governo e partido de ocasião, completamente apartados das expectativas de seus governados.

- Há pouco mais de dois anos:

"O lobo perde o pelo, mas não perde o viço". O PT e a mandatária maior do país, talvez ainda sobre o efeito atordoante do esmagamento provocado pelo povo, correram a colocar-se ao lado da sociedade, como se sempre lá estiveram, para reivindicar que o Congresso Nacional votasse as leis que beneficiam o cidadão brasileiro. Ficou claro, óbvio e cristalino que o PT não imaginava nem de longe, especialmente, às vésperas de uma festa internacional sediada no Brasil, que o povo se colocasse nas ruas exigindo TUDO o que lhe é de direito e sempre foi negado sorrateiramente. O governo, por dias, perdeu o rumo de casa. Não sabia pra onde correr. Agora, vem descaradamente tentar vender a ideia de que plebiscito ou referendo vai deixar o Brasil mais Brasil ou o povo mais satisfeito. Sem entrar no mérito das mais variadas dificuldades de se proceder a um ou outro instrumento constitucional, o fato é: o povo quer que os problemas que afligem a sociedade sejam resolvidos, quer atenção de seus governantes, quer hospitais funcionando, quer economia estável, quer segurança, quer poder planejar o futuro, quer igualdade para todos, quer ver acabar a corrupção e ter seu dinheiro canalizado e aplicado para o bem geral, quer ver os criminosos na cadeia cumprindo as suas penas, quer ter a esperança de que seus filhos e netos tenham oportunidades de crescimento e de uma vida plena de felicidade, enfim, são tantos "querer" que decerto não caberão aqui.

Voltando ao lobo. Tudo que está posto como pretensão popular já poderia estar em marcha larga para o acabamento, não fosse a inércia dos poderes constituídos. Como é que de repente, tanto se votou e se aprovou nas casas legislativas nas duas últimas semanas. Precisou-se de plebiscito ou referendo para isso? Ademais, agora que o governo e o PT vêm propugnar por uma consulta popular para saber o que o povo quer? Eles não sabiam?

Há no ar um cheiro de pelo (de lobo) molhado pelo suor do povo.

- Volto ao presente e pergunto: “Onde é que está a substancial diferença?”

JM Almeida

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JM Almeida

João Maurino de Almeida Filho. Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Jurídicas. 

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