Médico rebate Rede Globo: não falta médico no Brasil, o que falta é respeito profissional

23/04/2018 às 18:58 Ler na área do assinante

Mais uma reportagem maldosa envolvendo os médicos brasileiros.

Chega!!! Não mais admitiremos calados estas mentiras.

Repórteres do Bom Dia Brasil, nesta segunda-feira (23), "indignados", tentaram mais uma vez distorcer a realidade, empurrando para cima de nós, médicos brasileiros, a responsabilidade por um sistema público de saúde falido e ineficiente. Isso já está se tornando um hábito neste "país de faz de conta".

Devem estar preparando o terreno para outro programa populista, demagógico e eleitoreiro: seria o Mais Médicos II, ou a reativação do falecido Mais Especialistas que foi abortado antes mesmo de nascer no governo vermelho de Dilma Rousseff ?

Não existe falta de médicos no Brasil, como tentava induzir a reportagem falaciosa exibida por esta emissora; o que realmente  vem faltando é:

• Condições de trabalho dignas e adequadas;
• Concurso público;
• Relação trabalhista confiável, transparente e segura;
• Salários dignos;
• Segurança no ambiente de trabalho;
• Perspectiva de crescimento profissional, dentre outras reivindicações justas e desejadas em qualquer profissão.

Se não houver um mínimo de atrativo no serviço público não haverá interessados em preencher as vagas disponíveis.

Qual profissional vai querer trabalhar por um mísero salário, sem as mínimas garantias de recebimento, trabalhando em um local insalubre, inseguro e sem as mínimas condições para que exerça com competência e responsabilidade o seu ofício?

Só mesmo os "escravos modernos do regime comunista cubano", que participam do Programa Mais Médicos do Governo Federal, poderiam aceitar calados estes maus tratos.

Posso comprovar o que digo. Há 18 anos fui seduzido pelo sonho de crescer profissionalmente junto com o Estado mais novo da Federação, o Estado do TO.

No começo foi realmente um sonho, sentia-me realizado ao ajudar no desenvolvimento econômico e social desta linda região do país. Tudo funcionava como combinado.

Aos poucos este sonho foi se tornando um grande e terrível pesadelo.

Muito trabalho, muita cobrança e nenhum salário.

Como anestesista precisei fazer uma greve de fome de 4 dias na frente do Hospital Regional de Araguaína para denunciar 12 meses de atraso salarial e a péssima qualidade do sistema público de saúde do Estado. Este fato ocorreu no ano de 2016.

No dia 24 de dezembro de 2017, como presidente da SAETO - Sociedade Tocantinense de Anestesiologia - fui obrigado a denunciar à população do TO o risco de paralização do serviço de urgência e emergência público, por que mais uma vez, estávamos 7 meses sem receber os nossos honorários, o que estava fazendo com que perdêssemos os nossos profissionais, sem condições de repô-los com novos profissionais provenientes de outras regiões do país.

Quem gostaria de vir trabalhar em um Estado onde o governador não paga o salário de seus anestesistas? (Os dois fatos ocorreram na gestão do Governador Marcelo Miranda que tinha como Secretário de Saúde o Dr Marcos Esner Musafir - ex-secretário de Saúde do ex-governador Sérgio Cabral do RJ ).

E o problema não gira apenas na esfera estadual, todos estão de sentindo no direito de dar o calote na classe médica.

Estou até começando a pensar que os gestores públicos estão acreditando que fazemos fotossíntese para sobreviver.

Atualmente estamos lutando também com a prefeitura Municipal de Araguaína para podermos receber 5 meses de salários atrasados (Gestão do atual prefeito Ronaldo Dimas).

Como atrair novos profissionais médicos para o serviço público destas regiões mais afastadas do país, se nem os profissionais que há anos estão lutando com dedicação e profissionalismo, já erradicados nestes locais, estão conseguindo permanecer nestes municípios ?

Como podemos verificar, o problema é muito mais sério do que se imagina, a rede Globo de televisão deveria ter mais responsabilidade e cuidado ao tentar jogar na conta dos médicos brasileiros este problema tão  grave que assola todo o nosso país.

Obs: atualmente lutamos para receber quase R$ 7 milhões em salários atrasados do governo do Estado do TO, relativos há vários meses de trabalho, de aproximadamente  100 anestesistas de nossa cooperativa - COOPANEST- TO;

• Lutamos também para receber 6 meses de salários atrasados da prefeitura Municipal de Araguaína.

Roberto Corrêa Ribeiro de Oliveira

Médico anestesiologista, socorrista e professor universitário

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